Silvio Oziel Wolff

Policial Militar / SC

Existem pessoas que desde sua tenra infância já sabem, no seu íntimo, o que serão no futuro, por quais caminhos trilharão, qual será a história da sua vida.  Silvio Oziel Wolff é uma dessas pessoas. Nasceu em 1973, em Lages (SC) e desde suas brincadeiras infantis já foi desenhando seu perfil para um dia ser policial militar.

A sua cidade natal, carregada de história (participou da Guerra dos Farrapos, foi teatro de fatos sanguinários na Guerra do Contestado), tinha em alguns bairros, na década de 70, um forte contato com a natureza. As crianças tinham a oportunidade de brincar livremente, tendo contato com animais, com o campo, com fazendas. Nesse ambiente Wolff, como é conhecido cresceu. Nas suas brincadeiras sempre era o policial, usando inclusive uniformes confeccionados pela mãe, utilizando fardas descartadas pelo seu pai que, claro, era policial, assim como seu irmão mais velho e um amigo. De certa maneira, seu destino já estava traçado: seria policial militar.

Conta Wolff que sua educação foi bastante rígida, principalmente quando era coordenada pelo seu pai. O castigo chegava, com certeza, quando fazia alguma coisa errada e que desagradava ao pai. A lei paternal era bem dura: um dos filhos errava, todos apanhavam. Ele conta isso com um sorriso no rosto, agradecendo pela educação que recebeu. No colégio também eram castigados. Alguns professores eram bem rígidos e não se furtavam de aplicar castigos corporais, algo que hoje é inconcebível.

Em casa ele era mais bem tímido, retraído, talvez até pela criação familiar. Já no colégio se soltava bastante e ele mesmo acha que era um pouco bagunceiro, agitando a sala de aulas e os recreios. Contam que mais de uma vez teve que se submeter a ficar de joelhos sobre os grãos de milho. Relacionava-se bem com os colegas, tinha muitos amigos, com alguns deles mantém a amizade até hoje. Não era muito estudioso, nem dado a muita leitura. Gostava muito de matemática e quando chegava a hora do futebol sempre sobrava para ele a posição de goleiro, pois não era muito bom de bola. Acredita que passou a adolescência sem maiores problemas, sem irritar muito seus pais, talvez devido à rigidez do pai, que não dava muito espaço para rebeldias. Na família, o pai era a lei, a dureza; a mãe era o equilíbrio, ela que salvava muitas vezes a situação, amenizando as coisas.

Eram quatro irmãos, dois homens, duas mulheres. Uma tragédia marcou a família: as duas irmãs faleceram, uma atacada pelo câncer, a outra, com 18 anos de idade, num acidente. Silvio menciona que até hoje isso afeta à família. Elas festejavam seus aniversários no dia 16 e 18 de novembro, perto do aniversário dele, 19 de novembro.

Aos 19 anos de idade fez o concurso para PM e passou tranquilamente, assim ele iniciou sua carreira dentro da Policia Militar, na cidade de Rio do Sul. Esse começo de carreira foi uma experiência importantíssima para ele. Tudo era novidade: primeira vez longe de casa, tendo contato com colegas de outras regiões, realizando atividades diferentes, enfrentando novos desafios: até teve que aprender a cozinhar.

Teve momentos de certa tristeza, algum Natal e Réveillon solitário, pois era obrigado a permanecer no seu posto, longe da família. Lembra, com um sorriso, que numa dessas festas tradicionais teve que comer linguiça com pão, enquanto outros festejavam com uma mesa farta. Porém, nada disso o abalava, servia de incentivo para seguir adiante.

Na Policia Militar teve pouco serviço na rua. Em Balneário Camboriú, por exemplo, trabalhou um tempo no patrulhamento com moto. Mas a maior parte do tempo esteve em trabalhos administrativos, foi cozinheiro na época em que se cozinhava na própria unidade da PM, fez parte da equipe de investigação (P2), da financeira (P4) e das Relações Públicas (P5).

Como todo policial militar, enfrentou momentos críticos, com tons de drama e muita tensão. Certa vez aconteceu uma fuga de presos do presídio de São Cristovão e os fugitivos se aproximaram de Rio do Sul. Houve um cerco, troca de tiros, tensão, até prenderem os presidiários. Era o começo da carreira de Silvio Wolff e foi um incidente que o marcou profundamente.

Outro momento crítico foi quando participou de uma ocorrência na Serra da Santa, onde um acidente terrível deixou vários mortos, entre eles crianças. Também quando teve que entrar num apartamento e descobriu o corpo em decomposição de uma pessoa desaparecida. Ficou vários dias sem poder dormir. Com o passar do tempo foi adquirido certa resistência perante fatos violentos e traumáticos, certa frieza profissional que o ajuda a manter o equilíbrio emocional.

O lado mais visível da carreira de Wolff está no seu trabalho junto à comunidade. Talvez tudo começou quando conheceu sua esposa Gicelle, lá por 1997. Como nos filmes românticos, se conheceram num verão, quando ele veio prestar serviços em Balneário Camboriú. Acabou casando e vindo morar na bela cidade que abraça o mar.

Foi em Balneário Camboriú que iniciou seu trabalho no PROERD (Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência) em 2004, passando em 2005 a realizar o mesmo trabalho em Camboriú. Para Wolff essa é uma atividade muito gratificante, com momentos de plena realização, apesar de ter enfrentando momentos difíceis. Já está a 14 anos dentro do programa ajudando às crianças a encontrarem um caminho diferente. Não é a salvação garantida nem automática, mas é uma opção para crianças e jovens em situação de risco. O seu papel é orientar, ensinar que na vida podem ser feitas escolhas diferentes, escolhas positivas, decisões que levem a uma vida melhor. Para ele ver alunos superando dificuldades, triunfando na vida é muito gratificante. Assim como o entristece ver que alguns caem nas drogas o levam uma vida perdida dentro delinquência. 

Silvio Oziel Wolff chega aos 44 anos e analisa sua vida até aqui. Sempre quis ser soldado da PM e construiu sua carreira e sua vida encima desse sonho. Ainda tem coisas para realizar, como ser pai, por exemplo. Dentro da sua carreira chegou, até aqui, a 3º sargento, porém, apesar de afirmar que não era muito estudioso, construiu outra carreira paralela, frequentando e concluindo cursos universitários: ele é formado em História, com pós-graduação em História-Geografia, em Segurança Pública e em Coordenação Escolar. Além disso, fez cursos de Instrutor e Mentor PROERD, Direitos Humanos, Cargas Perigosas (MOPP).

Como professor de História lecionou no Colégio Visão durante cinco anos. Depois não pode mais conciliar os horários e teve que dedicar-se exclusivamente à PM e seus trabalhos sociais.

Além do seu trabalho no PROERD, ele participa de outros programas, recebendo o reconhecimento da comunidade pelo seu brilhante trabalho. Pelo seu desempenho já recebeu vários reconhecimentos: medalhas de mérito pessoal 3ª, 2ª e 1ª categoria; medalhas por tempo de serviço na PMSC, 10 anos e 20 anos; medalha PROERD, por ter contribuído significativamente para o engrandecimento do projeto; medalha de honra ao mérito do grupo de escotismo ADAD; Moção de Congratulação por três vezes recebida pela Câmara de Vereadores de Camboriú, por reconhecimento ao serviço prestado na Policia Militar/PROERD e Grupo de Escotismo ADAD; Prêmio Valor Humano 2017 pelo Espaço Viver.

Além da sua atividade profissional na Policia Militar, desenvolve um projeto social de escotismo ADAD (Adolescentes que amam a Deus), com 200 crianças e adolescentes. Também tem participação ativa no programa Sou estudante, Sou Cidadão.

Silvio Oziel Wolff é um belo exemplo de como um ser humano cresce e transforma seu sonho em um instrumento de crescimento, não só no plano pessoal, mas também engrandecendo a comunidade, melhorando o seu entorno, ajudando vidas a encontrar seu caminho, desempenhando com dignidade seu papel dentro da sociedade.

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