Localizada em Guaraqueçaba, no litoral do Paraná, a Reserva Natural Salto Morato é o único cenário brasileiro retratado na série documental Nosso Planeta (Our Planet), lançada em todo mundo pela Netflix.
Narrado por David Attenborough, um dos naturalistas mais famosos da história, o documentário retrata as belezas naturais do planeta, com imagens inéditas da fauna e da flora. Fundamentado na ciência, o documentário mostra os principais desafios enfrentados pela natureza para resistir aos efeitos das mudanças climáticas e aos impactos causados pelo homem.
A série produzida pela Silverback Films e WWF tem oito episódios e apresenta espécies incomuns e espetáculos da natureza presentes em regiões polares, oceanos, desertos e florestas. O objetivo principal do projeto é inspirar as pessoas a conhecer e preservar os ambientes naturais. As imagens de altíssima resolução foram gravadas ao longo de quatro anos em 50 países.
Tangará-dançarino
Em 2017, o Brasil entrou no roteiro, após 10 meses de negociações, para capturar a dança pré-nupcial do tangará-dançarino (Chiroxiphia caudata), ave típica da Mata Atlântica. Entre os principais hábitos da espécie está a performance dos machos para conquistar a fêmea. Em grupos de quatro a seis indivíduos enfileirados, os machos ensaiam e se revezam em acrobacias para se exibirem para a fêmea. Após a dança, a fêmea toma sua decisão.
A professora do departamento de Zoologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Lilian Manica teve o primeiro contato com a produção do documentário em maio de 2016. Participante da rede internacional Manakins Research Coordination Network, que estuda espécies como o tangará, ela conta que os produtores buscavam aves que tivessem exibições de cortejo, de conquista da fêmea pelo macho. “O tangará se destaca entre outras espécies da família porque se trata de uma dança cooperativa”, relata.
Para registrar o rito, mais comum durante a primavera e o verão, a pesquisadora indicou a Reserva Natural Salto Morato, mantida pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. “Nós encontramos os tangarás na Mata Atlântica, principalmente no Sul do País, mas acreditamos que Salto Morato era o local mais recomendado para as gravações por se tratar de uma área superpreservada, em um trecho onde o bioma está intocado”, destaca.
O biólogo Israel Schneiberg, que acompanhou as filmagens, revela que os cineastas estiveram no Brasil entre os meses de outubro e novembro. “A previsão era ficarmos na reserva durante 15 dias, mas por ser uma época de chuva intensa tivemos que ampliar o projeto. Conseguimos imagens dos tangarás apenas no 30º dia, quando estávamos indo embora”, afirma o doutorando em Ecologia e Conservação da UFPR.
Para a analista de Projetos de Conservação da Fundação Grupo Boticário, Natacha Sobanski, a visibilidade de um documentário como esse ajuda a despertar na população o desejo de conhecer e proteger a biodiversidade. “Apesar de o tangará ser uma ave comum na Mata Atlântica, poucas pessoas sabem sobre a sua existência, muito menos sobre esse ritual de corte pouco comum. Mostrar uma ave como essa em um documentário com escala global não só destaca a biodiversidade que encontramos no Brasil como também desperta a vontade das pessoas de conhecer e conservar, o que ainda estimula o ecoturismo e o desenvolvimento regional”, destaca.
Em entrevista à revista britânica TV Times, Attenborough destacou o ritual dos tangarás-dançarinos como um dos seus momentos favoritos do documentário. “A ave tem um cortejo de dança complicado. Uma das coisas mais divertidas para serem vistas porque os formam pequenos times como trapezistas”, disse.