SICILIANA GELATO ARTESANAL – A emoção do sabor
A história do sorvete, existe em muitas versões. Porém, quase todos concordam que começou com os persas, passou pelos chineses, ganhou corpo na Itália (graças ao incansável Marco Polo), o cozinheiro de Catarina de Médici levou para a França. Um siciliano talentoso, Francisco Procópio, em 1670, abriu em Paris um café que vendia sorvetes. Estava inaugurada a primeira sorveteria do mundo.
O paranaense Marlon Schunck, nascido em Foz de Iguaçu (PR) em 1979, se encontrou definitivamente com o sorvete já na sua vida adulta, quando morava em São José do Rio Preto (SP), transformando-se num brilhante mestre sorveteiro.
Ele ainda é um escoteiro meio cigano, inquieto, atento a tudo, sempre se mexendo. Filho de pai churrasqueiro e mãe cozinheira, que fizeram a vida no Turismo. Ele, acompanhando a odisseia dos pais, viveu até no Paraguai durante dois anos. Aos quatorze anos foi morar com eles em Gramado (RS).
Sua avó de origem alemã morava num sítio e era apaixonada pela culinária. Ela fazia cucas, doces e geleias maravilhosas, além de um queijo especial. Ela nasceu no Brasil e os pais que eram alemães acabaram voltando para a Alemanha. Com isso passou a infância e juventude na Europa, voltando em 1947 para o Brasil, depois da Segunda Guerra Mundial. Para sobreviver, fazia sorvetes para vender, usando um batedor de madeira.
Quando Marlon tinha dez anos, sua mãe teve a ideia de que ele participasse do movimento escoteiro. A sua vida de escoteiro, afirma Marlon, moldou seu caráter, fortaleceu seu respeito pelo próximo e lhe ensinou a respeitar ainda mais a natureza. Aprendeu a trabalhar em equipe, a aprender fazendo, desenvolvendo suas aptidões e capacidade.
No colégio ele sempre se relacionou bem. Mas, confessa, não era um bom aluno. Por não se preocupar muito com os estudos, acabou reprovado no primeiro ano do 2° grau.
Adorava correr de bicicleta. Praticava judô, vôlei, basquete e desbravava trilhas junto com outros escoteiros, descobrindo rios, cachoeiras, recantos de pura beleza natural. O basquete era sua praia. Tanto que chegou a colocar uma tabela no pátio da sua casa.
Morando em Gramado, para onde foi com os pais aos quatorze anos, cursou Turismo na UCS e Hotelaria na Escola Castelli. Era bem puxado, estudava o dia inteiro. Fez estágio no hotel Tropical em Manaus (AM), que na época pertencia à Varig. Trabalhou no hotel Casa da Montanha, em Gramado e, também trabalhou no pequeno hotel que a família tinha.
Entre 2009 e 2011 cursou Agronegócios na FATEC e entre 2013/2014 Marlon Schunck cursou sua pós-graduação: Comunicação em Marketing.
Uma das paixões é o montanhismo. Ele tem certeza que é um hobby muito importante para a vida. Praticar montanhismo não é uma atividade qualquer. Tudo deve ser muito bem organizado, a logística tem que ser bem planejada. Não há espaço para erros.
Marlon lembra que, lá por 1993, teve uma aventura de escoteiro sênior, em Curitiba para escalar o Pico Paraná. Saíram vários grupos e o seu errou o caminho. Perdidos, resolveram cortar pelo mato, percebendo que os outros não chegavam, descobriram que estavam no caminho errado. Levaram algumas horas até encontrar o caminho de volta para casa, este foi o seu primeiro contato com a montanha.
Já morando em Gramado, se aventurou pelas trilhas da região. Aproveitou para explorar o Cânion do Itaimbezinho e Fortaleza, no Parque Nacional Aparados da Serra, além de se aventurar pela Serra Gaúcha, um paraíso para quem gosta de montanhismo.
A sua condição de escoteiro lhe permitiu viajar, já em 2001, para a Suíça onde, segundo ele, se pratica o verdadeiro montanhismo. Foi para lá trabalhar como voluntário no Centro Escoteiro Internacional de Kandersteg um camping no meio dos Alpes Suíços que reúne jovens escoteiros do mundo todo compartilhando experiências, diversidade cultural, respeito aos diferentes povos, trocando ideias sobre um mundo melhor e se aventurando nas montanhas.
Esse parque recebia umas mil e quinhentas pessoas por dia, durante todo o ano. Marlon fazia de tudo lá, trabalhando em diferentes setores: limpeza, alimentação, manutenção, lavanderia e principalmente na coordenação de atividades de montanha. Lá se praticava escalada em gelo, rocha, rapel, mountain bike, rafting, entre outras atividades. Chegavam pessoas de mais de vinte e cinco países, que vinham para trocar experiências, aprender e praticar montanhismo. Para participar daquele programa, Marlon Schunck foi obrigado a aperfeiçoar seus conhecimentos no idioma inglês. Uns meses de intercâmbio na Inglaterra foram suficientes para ele se comunicar e desenvolver suas atividades.
Na Suíça ele aproveitou para fazer trilhas na montanha. Toda semana escalava picos de mais de 3.600 metros. No Mont Blanc, divisa entre França e Itália, ele fez escalada técnica, realizando seu sonho dentro do montanhismo.
Durante muitos anos, Marlon levou uma vida de nômade moderno. Em 2002 foi morar em Porto Galinhas (PE), no Nordeste. Com a mochila nas costas foi até o Maranhão. Voltou para Gramado e virou guia de turismo da Land Rover e da Casa da Montanha. Foi gerente de hotel em Bonito (MS), em 2003.
Em 2004 ele voltou para Suíça e depois foi para a Espanha, onde trabalhou num bar e iniciou uma pós-graduação em Recursos Humanos, mas não concluiu. Esse contato com a culinária espanhola foi muito importante na vida dele. Marlon tem clara noção disso e valoriza sua experiência em terras europeias. Na volta para o Brasil em 2005, precisamente para Gramado, Marlon gerencia um restaurante de parrilla uruguaia. Em 2006, já em Foz de Iguaçu sua terra natal, o encontramos como guia de turismo guiando mais de 40 nacionalidades em visita as Cataratas do Iguaçu. Uma vida bem movimentada e plena de experiências!
Numa das suas viagens para Europa, numa parada em Portugal, sentou do seu lado Juliane Ferreira Lopes, brasileira como ele. Conversaram durante longo tempo, enquanto faziam a travessia do Atlântico. Trocaram e-mail e uma história de amor começou. Em 2007, quando se comemorou o Centenário do Movimento Escoteiro, na Inglaterra, Marlon viajou para o Velho Mundo para participar do evento. Quando retornou, eles se encontraram em São Paulo. Naquele momento, ele morava em Foz de Iguaçu (PR) e ela em Rio Preto (SP). Mesmo assim o relacionamento cresceu e seguiram adiante. Dois anos depois, em 2009, resolveram morar juntos.
Marlon Schunck, nas suas diferentes atividades pelo mundo, sempre conseguiu um bom retorno econômico. Já em Rio Preto, foi trabalhar de recepcionista num hotel, uma função à qual seu espírito aventureiro não se adaptava. Logo arrumou um lugar numa empresa que se dedicava à exportação de produtos do agro negócio. Essa empresa representava outras empresas, uma delas no ramo de exportação de suco de laranjas e a outra era na área de carne. Por algum motivo, essas duas empresas mudaram sua logística e fecharam os escritórios no Brasil, e ele acabou perdendo o emprego.
Marlon ficou meses desempregado. Até que o pai de um amigo ligou e fez do nada a seguinte proposta: – “Vamos fazer sorvete?”. Ele estava montando uma gelateria e precisava de alguém de confiança. Foram fazer um curso em São Paulo, visitaram vários estabelecimentos para aprofundar o conhecimento e se lançaram no empreendimento. Marlon acompanhou tudo desde o primeiro momento, nos mínimos detalhes. A gelateria se transformou rapidamente num sucesso, já abriu com o movimento altíssimo. Logo resolveram abrir outra loja, aproveitar o bom momento e os bons resultados. Inauguraram uma loja conceito. De repente, chegou a crise. Corria o ano 2015 e o Brasil caia numa das suas crises cíclicas. Em 2017 resolveram fechar uma das lojas e ele acabou saindo da empresa. No acerto de contas, Marlon recebeu o maquinário de uma das lojas.
Sobre essa época da vida de Marlon, Rubens Pereira da Silva relata: – “Conheci o Marlon por intermédio do meu filho. Coincidência ou não, descobrimos que sua esposa é da mesma cidade da família da minha. Trabalhei por aproximadamente 30 anos na Caixa Econômica Federal e em meados de 2014 resolvi empreender no ramo de gelato italiano. Nessa época o Marlon estava desempregado. Convidei-o a me auxiliar nesse empreendimento. Considerando que seus traços mais marcantes são a persistência, o estudo e a dedicação, abraçou a causa e aproveitou a oportunidade para se aprimorar no segmento, pelo qual se apaixonou. Quanto sua atuação na minha empresa (Lazzo Gelato Italiano), foi excelente, correspondeu com o que se esperava dele e, o mais importante, soube aproveitar a oportunidade que lhe foi dada para seu crescimento profissional e pessoal, além de abrir-lhe a visão no sentido de que o negócio poderia ser seu negócio de futuro”.
Naquele momento da sua vida, quando fecharam a loja e ele ficou novamente desempregado, já com duas filhas, Sofia e Marina, Marlon tinha que tomar decisões diferentes daquelas que tomava quando era mais jovem e andava pelo mundo. Sua mãe já morava em Balneário Camboriú (SC) e tinha um imóvel, na Praia Brava, em Itajaí (SC). O imóvel estava à venda, mas ele poderia ocupar enquanto não fosse vendida. Marlon topou e se desdobrou para montar naquele espaço a sua gelateria. Assim começa a história da Siciliana Gelato Artesanal.
Sua esposa Juliane Ferreira Lopes tem gravada na sua memória esse momento, quando tudo parecia desabar e decidem vir para Balneário Camboriú. Ela comenta: – “Deixar tudo pra trás, enfiar as coisas num caminhão de mudança e arriscar-se a empreender num lugar totalmente diferente, tanto cultural como climático, foi a maior superação dele e nossa”.
Rubens Pereira da Silva destaca: – “Julgo que um dos grandes desafios que ele enfrentou, por força das circunstâncias, foi quando resolveu empreender seu próprio negócio em Balneário Camboriú, para o qual dei muito apoio, inclusive fornecendo os equipamentos em condições especiais de pagamento. Não é fácil dar uma guinada na vida quando se tem uma família, com duas crianças”.
Para Marlon Schunck o obstáculo foi simplesmente um ponto de partida, um degrau que sabiamente utilizou para se lançar.
Na Espanha, quando trabalhava num bar, Marlon se sentiu atraído pela culinária, pela riqueza da comida espanhola, pela gastronomia em geral. Quando estava em São José de Rio Preto (SP), trabalhando nas sorveterias, testou muitas receitas, desenvolveu sabores, experimentou. O sorvete se transformou numa paixão que tomou conta da sua vida. E ele trouxe todo esse entusiasmo para a Siciliana Gelato Artesanal.
Na época em que estava na Lazzo, Marlon fez cursos na escola de Francisco Sant’ana. O professor comenta, com entusiasmo, – “Ele é rápido, inteligente, ótimo aluno, ótimo profissional. Marlon tem uma capacidade incrível para criar, é muito criativo! Tem uma percepção muito boa do produto e da situação e uma capacidade admirável de trabalho”.
Inicialmente, ele não pretendia abrir diretamente para o público. A ideia era fornecer produtos de excelente qualidade para restaurantes, hotéis, eventos e outros estabelecimentos que venderiam para o público em geral.
Desde o começo se esmerou para utilizar produtos de qualidade e verdadeiros, preocupado para oferecer o melhor para seus clientes. Com isso, o preço do produto ficou um pouco elevado e os possíveis clientes não entendiam que a qualidade tem seu valor. Eles queriam preço, custo baixo.
Marlon não desistiu. Não mexeu na qualidade dos seus produtos. O primeiro cliente importante que ele conseguiu foi o Bistro Felissimo. Apostaram nele e na qualidade do sorvete que oferecia. Logo vieram outros. Porém, não eram suficientes para manter o negócio girando. Ele resolveu abrir as portas para o público em geral. Pouco a pouco, conseguiu uma clientela fiel e aficionada ao sabor e qualidade do sorvete da Siciliana.
O imóvel que ocupava foi vendido e ele teve que se virar em menos de um mês para arrumar um novo local e recomeçar. Esse foi um momento crítico na vida da empresa. Mas, com entusiasmo e determinação, Marlon Schunck superou e, no novo local, ampliou e consolidou sua clientela.
Ele já está ampliando seu leque de produtos: além do gelato, oferece geleias e sobremesas, atendendo além do cliente que vem ao local, empresas do ramo da alimentação. A ideia é produzir sobremesas numa escala maior, para superar a sazonalidade do sorvete.
Quando questionado por que Siciliana Gelato Artesanal, Marlon responde que a inspiração vem da Sicília, pela sua ligação histórica com o sorvete. Lá, em antigos tempos, pegavam o gelo da montanha e misturavam com frutas. Em terras sicilianas guardam a receita mais antiga de chocolate, copiada dos astecas, levada pelos espanhóis. Foi um siciliano inspirado que abriu a primeira sorveteria em Paris e conquistou paladares. Há muita história, muita riqueza culinária envolvendo essa terra italiana. Assim nasceu a inspiração para a Siciliana Gelato Artesanal.
Rubens Pereira da Silva comenta que ainda não conhece pessoalmente a Siciliana Gelato Artesanal. Porém, afirma: – “Pelo que conheço do Marlon e da Juliane, tenho certeza de que, se não for a melhor, é uma das melhores gelaterias da Santa e Bela Catarina. Inclusive, fiquei sabendo, já foi premiada”.
Ricardo Forte acompanhou, desde o primeiro momento, os passos em terras catarinenses de Marlon Schunck. Comenta que ele é um lutador, que não desiste jamais, focado, determinado, com muita coragem e, ao mesmo tempo, muito educado. Inovar está no seu sangue, no seu DNA. Ricardo lembra quando Marlon teve que trocar de local, pois o que ocupava tinha sido vendido. Naquele momento o impressionou a serenidade, a calma com a qual enfrentou a situação, o equilíbrio que demonstrou. Não se perdeu, não desistiu. Ricardo soube que ele sairia adiante, sem maiores problemas, pois a sua atitude, a maneira de enfrentar o problema foram determinantes. Ele se diz surpreendido agradavelmente pela qualidade e pelo alto padrão que Marlon deu à Siciliana.
Ricardo Forte, que desconhecia o sorvete produzido artesanalmente e passou a ser fã das obras de arte de Marlon, passou de cliente a amigo, elogiando o profissionalismo da equipe, o cuidado com os detalhes e, mas que nada, a qualidade do produto apresentado.
Apesar de estar longe, o antigo professor Francisco Sant’ana, acompanha os passos de Marlon Schunck no litoral catarinense. Acredita que ele está indo muito bem, vencendo num mercado exigente como é o de Balneário Camboriú, principalmente pela sua capacidade criativa e de trabalho. Do seu ponto de vista, e de muitos, a Siciliana é uma sorveteria alimentada com carinho, entregando um produto honesto, de excelente qualidade, sem perder para nenhuma das grandes sorveterias do Brasil. Um elogio e tanto do professor!
A Siciliana Gelato Artesanal tem a cara e a alma de Marlon Schunck, temperada com o aporte de Juliane, aquela companheira batalhadora que conheceu num voo entre Portugal e Brasil. Ela é esposa, a companheira fiel que reconhece nele sua honestidade, sua seriedade, sua integridade e até sua teimosia em determinados momentos. Para eles não foi fácil abandonar uma história de vida em São José do Rio Preto, deixar tudo para trás e recomeçar. Muito esforço, muita dedicação, perseverança e também renúncias, além dos ingredientes que nunca podem faltar (paixão, talento e força de vontade), fazem parte da história da Siciliana.
Marlon Schunck, um escoteiro com alma de mochileiro, viu o mundo, abriu sua mente e escolheu seu caminho. Criar sorvetes é muito mais que fornecer um alimento. Tem a ver com paixão, é uma das tantas experiências que nos marcam e que persistem no nosso imaginário. Marlon consegue captar todo esse universo maravilhoso e, com sua genialidade incomparável, expressar tanta riqueza nas suas pequenas grandes obras de artes: seus sorvetes carregados de emoção, de história, de sabores inesquecíveis.