Uma girlboss surfando na montanha russa da vida
Brusque é uma cidade catarinense do Vale do Itajaí fundada em 1860, por colonizadores vindos da atual Alemanha. Além dos alemães, chegaram italianos, poloneses, britânicos e até americanos do Norte, que fugiam da Guerra de Secessão.
Curiosamente, o nome da cidade não homenageia nenhum desses colonos que vieram conquistar um futuro melhor em terras americanas. Francisco Carlos Araújo Brusque, gaúcho de Porto Alegre, era presidente da Província de Santa Catarina na época da fundação da cidade e para ele foi a homenagem.
Brusque ficou conhecida como “Berço da fiação catarinense” e “Cidade dos tecidos”. Conserva forte influencia da colonização alemã na arquitetura, na gastronomia, nas festas e em outros aspectos do cotidiano.
Foi ali que nasceu Ana Paula Trentini Medeiros Silva, mais conhecida como Ana Trentini, no dia 26 de julho de 1990, bem no ano em que Fernando Collor de Mello iniciava seu governo, começando com medidas ousadas para conter a inflação, que alcançou a marca de mais de 1900% ao ano. Uma delas era o confisco da poupança dos brasileiros, por dezoito meses, para reduzir o dinheiro que circulava na economia. O “Caçador de Marajás” como era conhecido antes de chegar à Presidência do Brasil, o salvador da pátria da época, ficou dois anos no poder, sofrendo um processo de impeachment.
A infância de Ana, que ainda não era consciente das mazelas da economia nacional, foi semeada por brincadeiras na rua, subindo no pé de goiaba, desfrutando do embalo num balanço feito com pneu velho e sonhando com uma casa na árvore que nunca teve.
Era uma época tranquila, a criançada podia brincar na rua, sem problemas, ameaças, com hora marcada para voltar para casa: antes de anoitecer. Se não voltassem no horário combinado, tinham problemas com os pais. Em resumo, foi uma infância muito feliz.
Porém, uma triste notícia marcou para sempre a vida da menina. Os pais estavam separados desde os seus cinco anos. Então seu o pai vinha buscar Ana e sua irmã para o tão esperado passeio semanal, que era sempre aguardado com ansiedade, pois era um dia muito feliz.
Em um destes passeios ele não apareceu. Ana esperou e esperou talvez sentada na porta da casa, quiçá ansiosa no seu quarto.
O dia acabou e o pai não apareceu. Depois chegou a notícia. Primeiro, que ele tinha sofrido um acidente. Isso contaram para a menininha de sete anos. Mais tarde soube a verdade, seu pai faleceu. Foi difícil para a família e, principalmente, para Ana que nos seus jovens anos, independente de tudo o que tinha acontecido. Esse amor e admiração continuam presentes na sua vida até hoje.
A menina passou a ser o suporte da mãe no dia a dia. Sua irmã era três anos mais nova, muito pequena para entender e enfrentar o que viria pela frente. Até aquele momento, a família tinha um padrão de vida bom. Antes da separação dos pais, eles tinham construído um belo patrimônio. Tinham um belo sítio, casa na praia, carro, tudo aquilo que uma família com um bom poder aquisitivo pode ter.
Durante a separação, foi vendido o sítio, a casa da praia, e adquiriram uma casa para a mãe e as filhas e outra para o pai. A morte dele fez descer de maneira estrondosa o padrão de vida da mãe e as filhas. Se antes estavam no alto da montanha-russa, naquele momento começaram a descer e o frio na barriga era de arrepiar. Essa foi a primeira grande batalha que Ana atravessou.
No colégio adorava se envolver em tudo que era atividade: futebol feminino, basquete, ginástica rítmica, dança; participava de tudo e com muito entusiasmo, que contagiava a turma e a empurrava para frente, sempre querendo vencer.
A mãe, Estela Maritze Ramos, lembra que Ana Trentini sempre foi uma líder, determinada, comandando as equipes das quais participava, disposta a dar do seu suor, sua garra e determinação para levar a equipe adiante.
Aos 16 anos foi emancipada pela mãe e começou a se desempenhar como uma adulta. Só não tinha carteira de habilitação para dirigir. Já trabalhava desde os 15 anos e estava contribuído para o orçamento familiar.
Com medo de não estar preparada para enfrentar o vestibular, no chamado “Terceirão” começou a trabalhar e mudou para um colégio particular, pagando a mensalidade com seu próprio dinheiro.
Estudou na UNIFEBE e se formou em Administração. Porém, sua experiência mais forte no mundo empresarial veio dos seus trabalhos em empresas da sua cidade. Ainda assim, reconhece que a carreira universitária plantou uma semente nela, que foi crescendo e frutificando com o tempo.
Seu primeiro trabalho foi numa loja de sapatos. Era uma empresa tradicional da cidade, Ana era uma menina de 15 anos num ambiente conservador, com uma organização clássica, contrastando com sua visão de mundo. Por ser nova e inexperiente não dava muitos palpites, mas sentia que alguma coisa poderia ser mudada, para melhor.
Afirma que aprendeu muito ali, mas aprendeu ainda mais no trabalho seguinte, no qual permaneceu durante quase nove anos e que lhe permitiu pagar sua faculdade, formar-se e desenvolver na prática sua capacidade administrativa. Fez carreira ali, chegando a ser gerente da loja e desenvolvendo uma amizade e um carinho muito grande pelos proprietários.
Naquela época conheceu Darlene, que foi subgerente nesta loja, depois ambas acabaram saindo desta empresa e decidiram dividir o aluguel de uma sala para iniciarem seus próprios negócios. Até hoje são amigas.
Na faculdade, Ana Trentini conheceu uma pessoa com a qual estabeleceu laços fortes de amizade. Era uma garota muito especial no qual Ana tem muito carinho e amizade até hoje. Pegava carona seguido com ela depois da aula. Quando terminaram a faculdade, a amiga montou uma loja que era um sonho. Os mínimos detalhes foram trabalhados e o apoio financeiro do pai permitiu que tudo fosse do melhor, desde a decoração até os produtos que eram oferecidos, passando por os mínimos detalhes. Meses depois, a amiga avisou que estava desistindo da loja. Não era o que queria fazer da sua vida. Darlene comentou com Ana que era uma oportunidade para se lançar na vida empresarial. Ela duvidou muito no primeiro momento. Com qual dinheiro? Com qual capital? A vida era muito difícil, dinheiro era uma coisa que não sobrava.
Entusiasmada, motivada por Darlene e outros amigos, resolveu ligar para a amiga. Apenas começou a conversar e percebeu que Ana era a pessoa perfeita para comprar e levar adiante a loja. Em poucas conversas acertaram o valor e a forma de pagamento. Logo transformou-se em proprietária desta loja de roupa feminina na cidade de Brusque e rapidamente começou a mudar a cara do empreendimento dando o seu toque final em cada detalhe.
Ana começou a dividir seu dia com o trabalho na empresa que gerenciava e com a sua loja. Era difícil, não tinha capital de giro, não tinha poder de compra, não podia aumentar o leque de produtos que oferecia.
Assim chegou a novembro de 2014 e então Ana se desligou da empresa na qual trabalhava e a partir daquele momento dedicou-se exclusivamente a sua loja, enfrentando as dificuldades próprias de empresas pequenas e sem capital. Foram três anos de intenso trabalho, de luta, de renovação das forças para não desistir, para não se entregar. Nada era fácil na sua vida.
As crises da economia brasileira, principalmente a da construção civil, a atingiram em cheio. O ano de 2017 a encontrou num beco sem saída. Tudo ficou muito difícil, muito complicado, lutando contra uma corrente muito forte que a queria engolir, levar para o fundo do poço.
Na época já era noiva de Maurílio Medeiros, um pernambucano de Gravatá, que tinha aportado em Balneário Camboriú. Ele fez umas contas rápidas e mostrou para Ana que era hora de mudar. O momento era aquele. Foi convencida a mudar-se para o balneário mais famoso de Santa Catarina e do Sul do Brasil.
Decidida, colocou tudo à venda, inclusive os cabides. Levantou o que pode de dinheiro e foi embora com o noivo. Mas, seu espírito empreendedor não estava amortecido, não a deixava acomodar-se.
Em Balneário Camboriú, passado certo tempo, aquela sensação de algo mais prevalecia, o sentimento de despertar e renascer como uma fênix transbordava para o horizonte sem fim, quando então nasceu a Ana Trentini Store.
Tudo começou a se encaixar. Aquele sentimento que a acompanhou desde sempre, aquela sensação de que tinha vindo ao mundo para brilhar, para se destacar, com a clara missão de fazer a diferença, estava cada vez mais forte nela. Fazendo do jeito que achava certo, explorando sua sensibilidade, sua imaginação, seu conhecimento de duros anos de trabalho, foi abrindo caminho, conquistando espaço, encantando clientes, estabelecendo relacionamentos, muito além de uma simples venda.
Quando lhe perguntam quais seriam os momentos mais marcantes da sua jovem vida, não tem dúvidas: o dia do seu casamento com Maurílio Medeiros, o homem da sua vida, a pessoa que a complementa, apoia e a ama. O outro momento tem a ver com sua empresa: janeiro de 2020, quando percebeu que é capaz de fazer a diferença.
Sua irmã Aline afirma que Ana é uma batalhadora nata, sempre buscando aperfeiçoar-se, procurando crescer e vencer. Para ela, o momento mais marcante da vida de Ana foi quando comprou seu primeiro negócio e teve que lutar com todas as dificuldades de uma iniciante. Foi um momento de superação. Lembra, também, o desempenho brilhante de Ana no seu segundo trabalho, onde foi subindo até chegar ao cargo de gerente, mesmo sendo tão jovem.
Estela Maritze Ramos, sua mãe, sente muito orgulho da filha. Conta que sempre a ajudou em épocas em que tinha que se dedicar ao trabalho, para manter a família de pé. Foi um período difícil, complicado, no qual ficaram sozinhas (a mãe, Ana e a irmã) e enfrentaram o mundo com coragem e determinação. Orgulhosa, comenta que a filha é uma vencedora, sempre com ideias inovadoras, sempre procurando estudar e se preparar, construindo uma empresa que agrada, é competitiva e tem muita aceitação do público.
Estela destaca que sempre procurou passar para Ana fé, esperança e respeito ao próximo, respeitando os outros e exercendo a empatia.
Quando perguntam para Maurílio quais as características profissionais de Ana mais destacadas, ele não duvida: persistência, comprometimento e companheirismo. É uma batalhadora, superando as tragédias, grandes e pequenas da sua vida, sem esmorecer, sem se entregar. – “Ana não teve uma vida fácil, desde muito nova trabalhou duro, enfrentando dificuldades de todo tipo, sem claudicar”. Para ele, Ana tem o feeling de empreendedora, enxerga longe, percebe com clareza as oportunidades.
Segundo Ana Paula Schwarz Verwiebe, uma daquelas amigas do coração, três palavras ajudam a definir a personalidade de Ana Trentini: fé, determinação e lealdade. Confidencia que se conhecem a mais de 16 anos e que Ana sempre foi uma pessoa de muita fé, determinada, sem medir esforços para alcançar seus sonhos, mantendo firmes e intensos laços com a família e com aquelas pessoas que a vida aproximou e ama.
Destaca que ainda muito jovem Ana não mediu esforços para ajudar a mãe e a irmã, para superar uma situação financeira complicada. Lembra-se da carreira de Ana, começando como vendedora e alcançando o cargo de gerente, alcançando metas constantemente. Já na Ana Trentini Store, colocou todo seu conhecimento, determinação e capacidade de se reinventar, para consolidar e alcançar novos mercados, mesmo em tempos difíceis e complicados para qualquer ramo de negócios.
Ana Paula Schwarz Verwiebe se expressa com muito carinho, lembrando a trajetória da sua xará e amiga do coração.
Darlene, sua amiga de longa data, sente muito orgulho de Ana. Acredita que Ana é valente, com forte espiritualidade, muita força e grande empatia com seus semelhantes. Se arrepia de emoção quando fala da amiga.
“Hoje me considero uma vencedora.” Cita Ana Trentini. – “O ano de 2020 foi muito marcante, afinal a pandemia do covid-19 impactou em cheio todas as camadas da sociedade, entretanto, isso só mostrou como minha marca estava bem estruturada no mercado e que após tantos anos de luta os frutos da nossas sementes que plantamos durante toda essa trajetória estão prontos para serem colhidos”.
Durante a pandemia Ana Trentini sentiu a necessidade de se reinventar, sua loja era de certo modo especializada em moda para eventos, e como todos sabem a palavra eventos virou sinônimo de aglomeração, algo que foi proibido para evitar a disseminação do vírus. Foi quando Ana teve a ideia de mudar e oferecer produtos focados para quem vai ficar em casa ou para passeios esporádicos, como por exemplo, moletons e pijamas. Foi uma grande sacada, porque atendia perfeitamente a demanda.
Neste caminho descobriu um dom: analisar o comportamento feminino e entender as próximas tendências que virão. Em 2020 montou novas coleções e produtos que tornaram-se sucesso, mostrando que essa virada de chave da nossa realidade mostrou como ela é capaz de se adaptar e se reinventar rapidamente.
– “O aprendizado desta pandemia do covid-19, como empresária, é que devemos surfar a onda do momento, seja qual for. Dizem que o ser humano evolui, no momento que ele entra em um estado de sobrevivência, e eu acredito muito nisso. Foi um ano de muito aprendizado. Durante muitos momentos de minha vida tive adversidades, mas quando eu coloquei o meu trem nos trilhos, as coisas fluíram, porque eu nunca desisti. A mensagem que eu deixo a todos é que nunca desistam dos seus sonhos, mas não basta apenas sonhar, tem que agir, trabalhar porque as coisas não caem do céu”. Cita Ana Trentini.
Brusquense de corpo e alma, envolvida em sucessos que derrubariam qualquer ser humano, desde muito jovem, leva dentro de si uma chama singular, um fogo que a alimenta e a faz querer alcançar metas, marcar a diferença. Uma jovem mulher que, sem dúvidas, está pronta para alcançar vitórias incríveis em sua vida.
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