A menina que adorava futebol e o menino que nasceu em Ouro
Quando Lontras (SC) completava apenas cinco anos de fundação, Rita de Cássia Machado Servelin nasceu. Debutou no teatro da vida num município colonizado por alemães, com fortes raízes na agricultura, no cultivo de fumo, milho, feijão, arroz e na criação de aves, suínos e gado leiteiro. Hoje em dia a indústria representa grande parte da economia, seguida pelo comércio e deixando em terceiro lugar a agricultura.
Na infância de Rita de Cássia era um pouco diferente. A vida era bastante mais dura. Todos os membros da família tinham que participar do trabalho, inclusive os mais novinhos. Ela, assim como seus irmãos, participavam dos labores do cultivo do fumo. Tinham que recolher, amarrar e cuidar da estufa que secava as folhas. Não era fácil, nunca foi fácil. Eram oito irmãos, acompanhando os pais, nesse labor sofrido, de certa maneira isolados do mundo, lutando pela sobrevivência.
Não há queixas ou traumas por parte de Rita em relação a essa época da sua vida. Ela acredita que grande parte da sua disciplina, da sua responsabilidade, do seu jeito de encarar a vida vem de lá, da educação familiar rígida, vinda de pais de origem alemã e com uma visão bem definida da vida.
Conta ela que sua infância, fora o fato de ter que trabalhar na roça, para ajudar no sustento familiar, transcorreu normalmente, como em toda família, intercalando brincadeiras e brigas com os irmãos. A única e grande diversão, fora do âmbito familiar, era participar das missas aos domingos.
Rita brincava com bonecas feitas com abóboras pelas mãos criativas da sua mãe. Adorava futebol, corria atrás de uma bola feita com bexiga de porco, misturada com os moleques, jogando de igual para igual. São lembranças que trazem um ar nostálgico ao olhar da mulher madura e que se aventurou por novos caminhos. Ela se impressionou quando, aos dez anos, viu pela primeira vez uma lâmpada elétrica funcionando e quando aos treze anos descobriu uma TV. Sua memória guarda com certa emoção esses momentos marcantes.
Rita começou sua vida escolar aos sete anos. Naquela época e na sua região, estudar demandava uma boa dose de esforço, força de vontade e paciência. Os alunos da 1ª à 4ª Série estudavam todos juntos na mesma sala. Hoje em dia, alguns países, como a Finlândia, usam esse método de ensino como uma inovação, misturando várias faixas etárias e proporcionando um ensino fora dos padrões considerados normais. Utilizam esse método não por necessidade ou por falta de professores ou escolas. Estão testando novos métodos de ensino. Já no caso de Rita e de sua sala única para vários alunos, em diferentes etapas da vida escolar, era por pura necessidade. Não existia outra opção.
Por ser a mais nova da família ela foi privilegiada e teve oportunidade de frequentar a escola. Conta que sempre teve muita dificuldade na sua vida escolar. Não existiam estímulos dentro do seu lar, mas tinha muita força de vontade, queria escrever uma história diferente para sua existência, não queria ficar no campo e continuar naquele cotidiano de luta e sofrimento. Nunca foi uma aluna nota dez, mas sempre teve muita força de vontade para vencer os obstáculos, para seguir adiante. Era uma escola isolada do mundo, com filhos de poucas famílias e com todas as limitações que possamos imaginar. Suas lembranças dessa etapa não são muitas, perderam-se um pouco na poeira do tempo. Talvez a marca maior seja a presença da professora Ana, que a inspirou em vários momentos da sua trajetória, sendo uma espécie de farol guiando-a ao longo da sua carreira, iluminando o caminho e mostrando que é possível quando realmente se deseja que as coisas aconteçam.
Já do 6° ao 9° ano, quando estudou em Lontras, tem lembranças mais vividas, cultivando amizades que permanecem até hoje. Lembra que tinha que percorrer nove quilômetros de bicicleta para participar das aulas, tanto em dias de bom tempo quanto em dias de chuva e frio. Essa sua experiência ela procura passar para os seus alunos, mostrar que é possível quando existe força de vontade.
À medida que cresciam os irmãos, assim que era possível, acabavam partindo buscando novos rumos. Ela, quando tinha 15 anos quase chegando aos 16, também partiu, acompanhando seus pais. As terras foram vendidas e eles escolheram Camboriú (SC) para começar uma nova vida. O pai se aposentou, mesmo assim continuou trabalhando.
O fato de estar um ano atrasada, em relação aos companheiros de estudo, não desanimou Rita. Cursou Secretariado e também Magistério no Colégio Professor José Arantes, em Camboriú. Como sempre quis ser professora, quiçá inspirada por Dona Ana, professora de seus primeiros anos escolares, assim que terminou o curso de Secretariado, resolveu fazer o vestibular para Pedagogia na atual UNIVALI. Não era uma tarefa fácil, principalmente para ela que tinha pouca base, vindo de uma educação básica não muito forte. Passou e fez parte da 2ª turma de Pedagogia que se formou em Itajaí (SC).
Nem bem tinha chegado a Camboriú arrumou seu primeiro trabalho numa gráfica. Depois passou para uma loja de sapatos, até se formar e alcançar um dos seus objetivos: exercer o magistério, ser professora. Começou sua vida como docente numa creche, por volta de 1986. Depois passou para o Jardim de Infância Padre Sérgio Maykot, chegando ao cargo de diretora. Foi professora por um ano no Colégio Professora Clotilde Ramos Chaves, prestando logo concurso para ser professora estadual e fazendo parte do Colégio Mario García a partir de 1994. Ficou por lá até 1997, quando se afastou para dedicar-se exclusivamente ao Recriarte.
Voltando um pouco no tempo, antes de 1986, encontramos Rita numa loja de sapatos, seu segundo emprego. Essa atividade, sem dúvidas, tem muita importância na sua vida. Não só porque ali adquiriu experiência para tratar com o público, resolver conflitos e saber vender. Ali, conheceu seu futuro marido, Augusto.
Augusto Vitório Servelin nasceu em Ouro, no Oeste de Santa Catarina, no dia 4 de outubro de 1959. Ficou lá até os 13 anos, saindo da cidade natal para estudar no Colégio Agrícola, em Camboriú. Naquela época era difícil passar pela prova de vestibular. Uma professora incentivava, aportando material didático, ajudando nos estudos, motivando. Eram três dias de provas bem difíceis, tanto de conhecimentos como da parte física. Não podia ter problemas físicos nem deficiências intelectuais. Algumas das regras de então, nos dias de hoje, seriam consideradas no mínimo inapropriadas.
A meta de Augusto era formar-se como Técnico Agrícola e, depois, continuar estudando para se formar como Médico Veterinário. Foram três anos puxados no Colégio Agrícola. O sistema era de internato, ele conseguia voltar para casa somente uma vez por ano. O Colégio Agrícola era referência. As empresas vinham de vários lugares do Brasil, com o intuito de selecionar alunos destacados, para compor seus quadros de funcionários. Quem concluía os estudos, praticamente já estava empregado.
O garoto de Ouro prestou e passou no vestibular em Lages, mas sua condição econômica não lhe permitiu que ocupasse a vaga conquistada. Ele acabou fazendo carreira dentro do próprio colégio. Incentivado pelo diretor da casa de estudos, fez uma especialização em Minas Gerais. Em 1981 se inscreveu no concurso para professor e passou.
Nas ruas de Camboriú uma garota chamou sua atenção, aguçou sua curiosidade. Várias vezes seus caminhos se encontravam. Um dia ele resolveu entrar na loja onde Rita trabalhava. Entrou para comprar um chinelo, mas outras eram suas intenções. A compra serviu para aproximar os dois. Logo ele já a convidou para ir ao cinema. Ela, educada na rigidez alemã da sua família, não aceitou. Augusto não desistiu, tentou várias vezes e tanto insistiu até que ela aceitou. Porém, devido ao zelo familiar, saírem para passear, cinema ou degustar alguma delícia numa sorveteria era outra história. A mãe de Rita questionou: “Como vai sair com ele se nem noivou ainda?”. Noivaram e, do dia para a noite, Augusto se transformou no genro preferido. Foi assim que a menina que adorava jogar futebol, chutando feliz uma bexiga de porco pelos campos da sua infância, uniu sua vida ao menino que queria ser Veterinário e que vinha de uma cidade com nome de metal precioso: Ouro, no Oeste catarinense.
Dessa união surgiram não somente um casamento, uma família, filhos e esperança. Desejos, visões, anseios uniram-se para dar vida a um projeto maior, um sonho que já estava incubado nos dois e que, no momento certo, veio à luz e se fez realidade.
Rita sempre trabalhou com educação infantil, desde que se formou ficou nesse nicho da educação, totalmente apaixonada pela sua profissão, pela sua missão.
O destino encarregou-se de levar o casal por caminhos que abririam para suas vidas novas possibilidades. A professora teve que acompanhar as mudanças políticas da época, sendo transferida várias vezes, até ficar numa creche estadual.
A educação pública pouco a pouco foi se degradando, passando por um processo de profundo desgaste e de desvalorização. Era, e ainda parece ser uma queixa normal e recorrente, atingindo muitos centros de ensino do país, criando insegurança nos pais e nos alunos.
Quando o primeiro filho do casal Guilherme completou quatro anos, as escolas estavam cheias, sem vagas, com muitos problemas no seu cotidiano. Uma luz acendeu-se na mente do casal, um sonho que talvez viesse dos tempos da infância ou da adolescência. Perceberam que a comunidade estava carente de uma boa escola, que transmitisse segurança aos pais e conhecimentos aos alunos, preparando-os para novas etapas, para vencer obstáculos e alcançar metas que, sem educação, não seria possível alcançar.
Assim surgiu a ideia de montar uma escola que atendesse as necessidades do próprio filho e de outras crianças. Não era uma tarefa fácil, as chances de fracassarem no intento eram muitas. Havia um conceito arraigado na cidade de que naquela comunidade os empreendimentos inovadores não prosperavam.
O casal decidiu arriscar-se e empreender. Continuaram nos seus respectivos trabalhos, mas começaram a montar a escola. O começo foi numa casa, com algumas limitações, mas com muito empenho e dedicação deles.
Visitaram mais de oitenta famílias comunicando a novidade, o que pensavam fazer, como seria e qual público atenderia. Com essa divulgação conseguiram conquistar quinze matriculados, dentro da faixa etária de 03 a 06 anos. Em fevereiro de 1996, quando o Recriarte foi inaugurado, o Brasil estava dando os primeiros passos dentro do Plano Real, abandonando a inflação descontrolada e dando certa estabilidade econômica ao país, tão abalado e traumatizado por planos anteriores.
Posteriormente o colégio começou o ano letivo com vinte e seis alunos e terminou com quarenta e três. Rita afirma que o nome de todos eles estão registrados e devidamente documentados, um registro para a história e para a memória afetiva do colégio e dos seus fundadores.
Rita e Augusto foram surpreendidos pelo rápido crescimento da escola. Mesmo com um começo difícil, trabalhando no vermelho, mantendo seus empregos para levar adiante o ambicioso projeto, trabalhando forte e cuidando de todos os detalhes, os primeiros passos não foram tranquilos e sem sobressaltos. Implantar uma ideia nova e diferente numa comunidade que não acreditava muito no sucesso, não foi uma tarefa simples e fácil.
Ele assumiu a administração, esforçando-se para manter as contas em dia, para organizar fluxo de caixa, pagamentos, recebimentos e todos esses detalhes que, quando administrados de forma errada, podem se transformar num problema insolúvel. Ela, o projeto pedagógico, cuidando de detalhes que, pouco a pouco, fariam a diferença. Nesse sentido, Rita é até obsessiva: uma escola tem que ter regras, tem que acompanhar as novidades no campo pedagógico, deve oferecer um corpo discente com boa formação e experiência, deve provocar no aluno a vontade de aprender. A qualidade do ensino é fundamental e as expectativas, que se renovam a cada ano, devem ser atendidas.
Uma marca, uma empresa se constrói com pequenas e grandes ações que vão se somando, como se fossem tijolos que vão levantando paredes, casas, prédios. Não nasce do dia para a noite, do nada. Há detrás de cada marca, de cada nome chancelado pelo sucesso, um esforço que não aparece, que permanece como escondido na rotina, nas quase imperceptíveis ações diárias e constantes.
Um dos segredos foi cercar-se de pessoas com boa formação e experiência. Não houve improvisação nesse aspecto. A equipe que foram montando respondeu proporcionando um trabalho de muita qualidade, com excelente retorno e transformando-se num dos pilares do colégio.
O nome, Recriarte, foi escolhido procurando transmitir mais que um nome, uma palavra cheia de significação. A mensagem contida no nome é muito importante. Mesmo quando são separadas algumas sílabas, o nome não perde sentido e até ganha novos significados. Recriar, criar, criar arte, arte… Abre um leque de possibilidades e sugere novas ideias.
A imagem escolhida para representar graficamente o colégio foi a de uma abelha. As abelhas constituem uma sociedade muito especial, sensível e incrivelmente organizada. Dentro de uma colmeia cada indivíduo sabe exatamente qual é sua função, o que tem que fazer, como fazer e quando fazer. Até quando não estão fazendo nada, sabem que estão cumprindo com um papel dentro daquela comunidade. Rainha, operárias, zangões, cada integrante daquela organizada sociedade sabe qual é seu lugar e seu papel. Tudo funciona, pois cada membro da equipe sabe como executar seu trabalho, conhece sua posição e qual é sua missão. Por esse motivo o Recriarte aposta na imagem da abelha, evocando o sentido de organização, disciplina e dedicação ao trabalho.
No começo, tanto Rita de Cássia como Augusto, tiveram que desempenhar vários papéis dentro da organização, além de trabalhar muito além do horário normal. Eram duas abelhas solitárias, levando adiante uma colmeia que ainda estava em construção. Com o passar do tempo, o projeto se transformou em realidade, foi tomando cada vez mais o formato almejado.
Foram muitas noites sem dormir, pensando no dia seguinte, nos meses seguintes, projetando, estudando, solucionando problemas. Tinham que vencer o estigma de que em Camboriú nada se cria, nada avança, nada dá certo. Augusto, encarregado da administração, quebrava a cabeça para as contas fecharem, para encontrar soluções e sair do vermelho. Todo começo é difícil, todo começo tem seus desafios, suas barreiras, seus obstáculos. Para vencer, para avançar, para alcançar as metas, é necessário dispor de doses extras de otimismo, de perseverança, de vontade de vencer. Porém, algumas premissas eram como regras de ouro: nunca atrasar salários ou compromissos, continuar investindo sempre, alimentando novos sonhos, olhando sempre para o futuro.
Desde o começo, Augusto e Rita tiveram boas ideias para levar adiante o projeto. Além de visitar e apresentar a muitas famílias o que pretendiam fazer, como pretendiam mexer com uma cidade com um histórico complicado nesse sentido, inovaram em muitos pontos. Por exemplo: transporte escolar gratuito durante os primeiros cinco anos. Augusto fazia esse transporte numa Kombi, tendo que pular vários dias da semana o almoço, já que continuava trabalhando no antigo Colégio Agrícola, hoje Instituto Federal Catarinense – IFC. Outra novidade: cada final de ano visitavam cada família dos alunos, levando um brinde, uma saudação, uma mensagem de esperança. Esse trabalho junto aos pais sempre rendeu bons resultados. A satisfação deles e dos alunos sempre foi a melhor propaganda.
O capital inicial da empresa foi tirado dos salários dos dois empreendedores. A aposta na ideia era total e sem chances de voltar atrás. Era como ter chegado a um território desconhecido, depois de muito tempo navegando e simplesmente queimar as naves e firmar pé em terra firme. Criar um novo mundo a partir de nada. Não retiravam dinheiro dali, somente investiam e investiam, alimentando um sonho que cada vez parecia mais possível de acontecer. A virada começou quatro anos depois da inauguração. Conseguiram sair do vermelho e o retorno começou a aparecer. Porém, continuaram investindo e aumentando o espaço físico, para abrir novas opções e proporcionar um ambiente melhor para os alunos.
Cada ano trouxe e ainda traz seus próprios desafios. São esses desafios que fazem o empreendimento crescer e se destacar. Além de contar com uma equipe super profissional, onde cada um sabe exatamente seu papel dentro da organização, existem regras tanto para os professores como para os alunos. E elas devem ser cumpridas para que tudo transcorra dentro do previsto e com excelência.
Quando, desde o presente, Rita e Augusto olham para trás, não deixam de se surpreender. Tudo começou numa modesta casa de 120 metros quadrados. Um pequeno espaço que não podia conter tantos sonhos, tantas esperanças, tantas visões de um mundo melhor para os alunos, para os docentes, para toda a comunidade.
Sem dúvida um dos fios condutores do sucesso do colégio é a atenção dada a cada disciplina, a cada segmento da formação humana. A menina que adorava jogar futebol, mesmo sem ter uma bola de verdade, de alguma maneira influenciou o espírito esportivo dos alunos, proporcionando oportunidades para eles desenvolver suas habilidades e se destacarem.
O esporte tem sido uma das tantas marcas do Recriarte. No ano 2000 começou a construção do Ginásio Poliesportivo, proporcionando um espaço maravilhoso para desenvolver o talento e o espírito de competição dos alunos, além de ajudar no desenvolvimento humano dos mesmos. As vitrines do colégio exibem com orgulho os troféus que contam a história de triunfos de diferentes turmas.
Durante todos os anos de atividade, o esporte trouxe muitas alegrias para o Recriarte. Desde os primeiros passos foram criadas escolinhas que deram excelentes resultados. A partir do ano 2010 as participações em competições mais exigentes e de nível passaram a ser uma constante.
Alguns dos títulos alcançados: Campeão nos Jogos Sul Americanos em Arequipa, Peru, quando o colégio representou o Brasil nesses jogos escolares (2018). No ano anterior (2017) já tinha alcançado a quarta posição, sempre representando o Brasil.
Dentro dos Jogos Escolares de Santa Catarina (JESC) a lista é longa: Campeão Estadual nos anos 2011, 2012, 2015, 2016, 2017 na modalidade futsal. Em 2015 e 2016 o futsal do Recriarte foi Campeão Brasileiro, uma verdadeira façanha para a cidade e para o colégio. Já em 2011 e 2012 tinha alcançado o vice-campeonato.
Dentro do âmbito estadual, no Moleque Bom de Bola, o futebol sagrou-se campeão em 2011, 2012, 2014, 2015 e 2018.
Realmente, a meninada do esporte tem dado muitos motivos de orgulho para o colégio e para a cidade de Camboriú.
A dança encontrou seu espaço, também. No começo numa sala acanhada, hoje num espaço muito maior e equipado para possibilitar um ensino de qualidade. Os nomes que brilharam nos palcos, já estão surgindo e encantando espectadores de muitas latitudes.
Muitas vezes não percebemos que algumas dançarinas, que já se destacam a nível nacional, saíram das salas de aulas e da sala de dança do Recriarte.
Yanca Guimarães, por exemplo, abrilhanta as tardes dos domingos, no Balé do Faustão, da Rede Globo.
Yasmin Meireles participa do quadro Ding Dong, do mesmo programa. Foi uma das professoras e coreógrafa do Recriarte, trabalhando firme com as alunas e passando toda sua experiência.
Estefani França, outra ex-aluna destacada, faz parte do corpo de bailarinas do Beto Carreiro World.
As coreografias do Recriarte já receberam muitos prêmios em festivais nacionais e internacionais. Roberta Prado Guimarães é a coreógrafa responsável e está realizando um ótimo trabalho.
Há uma lista enorme de ex-alunos que se destacam nas mais diversas profissões, o que nos dá a certeza de que o projeto pedagógico e o trabalho diário, com dedicação ao máximo, estão dando os resultados desejados.
Não foram descuidados os avanços da tecnologia. Nem a parte física e nem o projeto pedagógico ficou parado no tempo. As novidades em todos os campos foram incorporadas ao cotidiano do colégio, proporcionando aos alunos a chance de adquirir novos conhecimentos, aproveitando as benesses das novas tecnologias.
Anualmente, é realizada uma Noite Literária abrindo espaço e dando um palco magnífico para os alunos expressarem suas inquietudes, mostrarem seus talentos e deleitar ao público com momentos de muita emoção.
Além das salas de aulas, novos ambientes compõem a estrutura física do Colégio Recriarte. Ginásio poliesportivo, biblioteca, espaço recreativo, refeitório, sala de artes e auditório.
Talvez os alunos e pais de hoje não saibam como foi difícil chegar até esse patamar. Com certeza não sabem quanto esforço custou comprar a Enciclopédia Barsa para cumprir normas e oferecer a primeira biblioteca para os alunos daquele ano de 1996.
A Enciclopédia Barsa era, sem dúvidas, um instrumento importante de informação e de transformação do leitor. Reunia nos seus exemplares o máximo possível do conhecimento humano e incitava à transformação do pensamento humano, da visão que o homem tinha do mundo. Os avanços tecnológicos acabaram com a Barsa, sua última edição foi em 2010, mas em 1996 ainda era um instrumento importante de informação e cultura, apesar de que a internet já estava mostrando com força a sua cara, assim como as mídias hoje obsoletas (disquete, CD-ROM e outros).
O sonho inicial foi de proporcionar uma educação de qualidade. E esse sonho foi um ponto no horizonte e, ao mesmo tempo, a base do caminho. A visão de duas pessoas apaixonadas pelo ensino, pela educação, contagiou uma comunidade que da incredulidade inicial passou a acreditar no projeto, no sonho, na visão. Onde nada se criava, nasceu um espaço de qualidade e com fortes raízes para alavancar o futuro de muitas gerações.
Alunos do passado, profissionais de hoje, pais de alunos novos, são a clara demonstração de que é possível, de que se pode, de que obstáculos podem ser transpostos, de que metas incertas e inalcançáveis, de repente, são alcançadas, abrindo caminho para novos estágios.
Uma rápida pesquisa na internet nos dá uma ideia do que hoje significa o Colégio Recriarte dentro da comunidade camboriuense e até num patamar nacional e internacional. Com um projeto pedagógico que vai além do esperado, o colégio tem ajudando a formar artistas, profissionais, atletas, homens e mulheres que são orgulho dos professores e da equipe do colégio em geral.
Escutar Rita de Cássia e Augusto Vitório, relatando, cada um com sua visão, com sua percepção, contando como construíram e aumentaram o colégio, é inspirador. Há humildade nas suas palavras, nos seus relatos, mas há também uma íntima satisfação, a certeza de que estão trilhando o caminho certo, a convicção de que os sonhos podem se transformar em realidade quando colocamos nele não somente nosso esforço físico e intelectual, senão também nossa fé e nossa visão.
Augusto e Rita sabem que nada acaba com ou neles. Os filhos, Guilherme e Gustavo, estão praticamente prontos para assumirem e desbravarem novos territórios. Guilherme tende para a administração do colégio, Gustavo, que cursava Medicina, influenciado pela mãe, desistiu e tomou um novo rumo, que o está preparando para assumir, junto com o irmão a direção do Recriarte.
Os dois jovens se incorporaram naturalmente ao cotidiano do colégio, aportando novas ideias, novas tendências, percebendo a realidade atual com o olhar próprio da juventude, enxergando oportunidades e novos desafios.
A formação deles é muito interessante: Guilherme Augusto Servelin passou pelas aulas do Recriarte, formado no Ensino Médio do colégio e graduado em Administração pela UNIVALI.
Gustavo Victor Servelin, assim como seu irmão, também passou pelas aulas do Recriarte, fez intercâmbio no Canadá e posteriormente cursou Administração na UNIVALI, integrado a HZ University da Holanda. Ele é formado em TOEFL Exam na Kings College de Vancouver, Canadá.
Gustavo tem viajado bastante, conhecendo outras culturas, outros sistemas de ensino já consagrados no mundo. Ele e Guilherme são a cara nova do Recriarte.
Augusto Vitório afirma que os filhos estão prontos para abrir novas opções, descobrir novas possibilidades, avançar com projetos inéditos, sem descuidar da tradição de qualidade, sem perder as raízes que fizeram do colégio uma referência no campo educacional.
O menino de Ouro e a garota que ainda adora futebol vieram do nada ou de quase nada. De famílias humildes, com poucos recursos, alimentaram sonhos imensos e tiveram a coragem e a persistência de buscar a realização, a concretização do que enxergavam dentro deles.
Augusto fala que uma das suas maiores alegrias e ver o crescimento do Recriarte e das pessoas que estão ao seu redor, além da formação de alunos que se sentem prontos para enfrentar o mundo, preparados e carregados de ilusões.
A honestidade, a transparência, a postura ética e verdadeira, foram elementos importantes nesse caminhar procurando sempre a excelência, a qualidade e a formação de seres humanos dignos e conscientes.
A nova geração está chegando com força, Rita e Augusto em algum momento darão um passo ao lado, abrindo espaço para os filhos. Já não são meninos e sabem disso. Mas, a base, as raízes, os fundamentos de um grande empreendimento foram dadas por eles.
Rita de Cássia e Augusto Vitório levantaram mais que paredes, eles construíram uma bela realidade, a partir do improvável, a partir de sonhos individuais que se transformaram num incrível sonho comum.
A fé, a visão de uma comunidade melhor, de um mundo melhor, a persistência, a vontade de triunfar contra tudo e contra todos, a esperança de criar uma nova realidade para muita gente, venceram derrubando qualquer prognóstico contrário, qualquer dúvida.
O Colégio Recriarte, de Camboriú, Santa Catarina, é um belo exemplo de como boas ideias e perseverança podem concretizar muito mais do que esperamos.
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