Karina Elisa Schweder de Lima

A mulher de sete vidas

Com um nome assim, completo e elegante, Karina Elisa só pode estar predestinada para o sucesso, para vencer na vida. Quem a vê em suas apresentações públicas, na TV ou nas suas palestras, não pode adivinhar quantos desafios ela já enfrentou, mesmo antes de nascer. Por algum motivo ganhou o apelido de “mulher das sete vidas”.

Ela nasceu no dia 29 de dezembro de 1966, em Rio Negro (Paraná), mesmo sendo seus pais moradores de Rio Negrinho (Santa Catarina). Mas essa, já é outra história.

Conta ela, com um sorriso divertido nos lábios e no olhar, que quando nasceu seus irmãos já eram adolescentes, o menor tinha quatorze anos. Por esse motivo ela foi criada praticamente como se fosse filha única. Foi mimada ao extremo, sendo de alguma maneira uma menina um pouco chatinha, isso segundo suas próprias palavras.

Morou em várias cidades: Rio Negrinho, Pomerode, Brusque, Taió, Blumenau, Florianópolis e Balneário Camboriú, fincando suas raízes, finalmente, em Camboriú.

Suas lembranças mais remotas da infância a remetem à cidade de Brusque, lá pelo ano de 1970, quando ela tinha quatro anos. Relata, com contida emoção, que teve uma infância rodeada de animais, o que explica o amor que sente por eles e o sofrimento que demonstra frente a situações tristes quando os animais são abandonados ou sofrem algum tipo de acidente, doença ou violência. Pavões, coelhos, cachorros e outros animais foram companheiros frequentes da sua tenra infância, criando um vínculo muito especial, que o tempo não conseguiu apagar. Já adulta, chegou a ter 23 cachorros na sua casa. Eram animais abandonados, que estavam sofrendo na rua. Sem dúvida, esse gesto de proteger seres indefensos revela muito do caráter desta mulher.

Outro detalhe da sua infância que vai se manter de alguma maneira até sua vida adulta é seu amor pelas bonecas. Pelo fato de ser a caçula da casa, ganhava muitas bonecas, o que criou uma relação muito especial com esse tipo de brinquedo. Muitos anos depois, pensando em incentivar crianças que passam por dificuldades físicas, materiais ou espirituais, criou um projeto: “Nome de Boneka”, produzindo com uma amiga bonecas e doando para hospitais infantis e para crianças em situação vulnerável. Simplesmente uma iniciativa que faz crianças abrirem seu melhor sorriso, independente das dificuldades pelas quais estão passando. De alguma maneira, nossos primeiros passos na vida servem de roteiro para escrever, ou não, o resto das nossas vidas.

No colégio sempre foi boa em português, apesar de se considerar uma aluna com notas médias, nada de excepcional. Lembra-se de uma atividade em um dos colégios onde estudou: os alunos tinham que montar textos e se apresentavam vestidos a rigor em determinadas datas. Ela sempre ia de saia e saltos, mostrando sua elegância. Karina Elisa passou por colégio de freiras e por colégio de padres.

Ao mesmo tempo em que cursava Pedagogia na FURB (Blumenau), Karina também atuava como professora de jardim de infância, no colégio Sagrada Família, em Blumenau. Logo após concluir o curso de Pedagogia, com especialização em educação infantil, lecionou novamente para crianças, no Colégio Franciscano Santo Antônio.

Casou-se na cidade de Blumenau onde residiu até 1995. Tem quatro filhos, todos nascidos em Blumenau. Mudou-se para Balneário Camboriú em 1995. Mais adiante, começou a atuar como administradora do Laboratório Camboriú, sediado na cidade de Camboriú.

Seu sonho de infância e adolescência era estudar psicologia, mas seu matrimônio com Edson de Lima, um empreendedor, levou-a por outros caminhos. Depois de participarem em negócios em outras cidades, como Blumenau, compraram um laboratório em Camboriú. Corria o ano de 1998. Acompanhando o marido, ela aprendeu e dominou todas as tarefas que fazem parte do empreendimento, dando rendas soltas a uma das suas paixões: trabalhar com o público, interagir com as pessoas, atender, servir. Segundo seu esposo, ela era a cara visível do laboratório, a parte comercial, a que tratava direto com o público. Ele ficava numa posição interna, cuidando da parte técnica e de outros aspectos da administração.

Era um laboratório pequeno, num local limitado. Porém, na visão de Edson, tinha elementos para crescer e Karina acompanhou e apostou nessa visão. O momento era propício para investir e lançar-se nesse nicho dentro da saúde. Existia demanda, as novidades tecnológicas estavam chegando com força, devido à liberação da importação desses equipamentos. O clima era muito animador e o casal se lançou com vontade e disciplina no novo empreendimento.

Pouco a pouco foi crescendo, alugaram salas maiores, mantendo um crescimento sustentado, até chegar ao local onde está atualmente. As metas iniciais, a visão inicial continua intacta. O sentimento predominante é sempre crescer, evoluir, adquirir novas tecnologias, melhorar o atendimento. Com cinco anos de trabalho, conseguiram terminar de pagar o laboratório e ainda investir, procurando sempre melhorar. Em 2017 o laboratório já contava com cinco salas, sendo duas no bairro Monte Alegre e uma equipe de 18 colaboradores. As poucas dificuldades que o casal encontrou no seu caminho foram vencidas e o crescimento foi mais rápido do esperado.

No começo a comunidade, como em todo lugar, desconfiavam um pouco de pessoas vindo de fora, com vontade de investir em uma cidade como Camboriú que não estava tão desenvolvida nem habitada como atualmente. Na época a cidade contava com uma população em torno de 35 mil habitantes e estava se recuperando do golpe recebido décadas atrás com a separação de Balneário Camboriú e com o novo traçado da estrada. Antigamente a estrada passava pelo meio da cidade, incentivando o crescimento por vários motivos. Com a nova BR 101, inaugurada no começo da década de 70, Camboriú ficou de lado, perdendo ainda mais sua força econômica. No final dos anos 90 começou a recuperação por uma série de motivos, justamente quando Karina Elisa e Edson se instalaram e começaram seu caminho rumo ao sucesso. Parcerias, convênios, profissionalismo, bom atendimento e investimento em novidades foram os ingredientes que sedimentaram o desenvolvimento do laboratório. Conta Edson que foram cinco anos de investimento e muito trabalho, reforçando principalmente a parte tecnológica para ter chances e ganhar mercado. O nome da cidade, no nome fantasia da empresa, foi proposital, para aproximar mais a população do empreendimento.

Para os dois, Karina e Edson, tudo começou em 1987. Os fios dos seus destinos se cruzaram, como quase sempre acontece, de maneira casual.

Ela morava em Blumenau. Ele era de Joinville e estudava em Florianópolis. Cursava farmácia, com habilitação em análises clínicas. Uma greve na faculdade, uma visita dele a Blumenau e pronto! O destino se encarregou de cimentar a união.

O começo da vida doméstica não deve ter sido fácil para Karina. Menina mimada, acostumada a ter empregada doméstica em casa que cuidava dos mínimos detalhes, simplesmente não tinha noção de muitas tarefas elementares de uma dona de casa. Por exemplo: não sabia cozinhar. Teve que aprender na marra, no andar da carruagem. Dizem que até hoje quem pilota o fogão, faz as compras e programa o cardápio, é Edson, que até gosta da função, principalmente quando recebem amigos, já que ele é muito caseiro e gosta de receber suas amizades em casa. Para ele se tiver happy hour tem que ser no seu lar.

Já Karina gosta de sair, de estar em contato com caras novas, de participar de eventos, de descobrir novidades, de agitar seus dias. Nisso, marido e mulher, se complementam. Ele é introspectivo, aparentemente carrancudo, reservado, gostando mais da intimidade da família e do convívio com amigos do que participar de festas, eventos ou reuniões fora do seu círculo. Ela é expansiva, sociável, despachada, gosta de conversar, mostra interesse por todos, adora estar em ambientes festivos e alegres.

Sua família original geraram gratas lembranças em Karina. A mãe, de origem italiana, sempre reunia a família, gostava de dar festas, de reunir em torno da sua mesa as pessoas. Era uma família que gostava de abraços, de beijos, de demonstrações de carinho, de expressar seus sentimentos.   Detalhes como esse marcaram a vida de Karina; são atitudes, valores, que se transmitem de maneira natural, sem tomar consciência desses fatos, mas repetindo-os na sua própria família. Nos momentos difíceis da sua existência, a mãe, os irmãos, filhos e esposo mostraram para ela o valor do grupo familiar, apoiando-a e de alguma maneira sustentando seu espírito de luta. Muitas vezes não percebemos, mas o que nos passam das gerações anteriores acabam influenciando nosso futuro. Com Karina Elisa não foi diferente.

Karina Elisa e Edson de Lima tiveram quatro filhos: Emanoella, Constance, Maria Victória e João Theodoro. Não existiu um planejamento, os filhos vieram naturalmente, tudo acontecendo sem nenhuma previsão. Como em qualquer família, cada um deles com personalidades diferentes, gostos diferentes, visões do mundo às vezes totalmente opostas, mas todos unidos pelo mágico fio do amor familiar.

Em 2008, sem deixar de trabalhar no laboratório, e por incentivo do seu marido, Karina começou sua trajetória no colunismo social, assinando uma página no Jornal Expresso de Camboriú. Os argumentos usados pelo seu esposo eram convincentes: ela tinha facilidade para comunicar-se, para escrever e para relacionar-se com as pessoas. Edson tinha certeza que Karina faria a diferença, pois achava que a comunidade estava carente de um olhar diferente sobre os acontecimentos da cidade.

Já em 2010 estendeu sua participação no colunismo escrevendo para o Jornal Linha Popular, assinando a coluna “Karina Elisa”.

Ela relata que teve o imenso prazer de estrear o Programa Lofty da TV Litoral Panorama como apresentadora. Foi um momento especial da sua vida. Também teve diversas participações no Programa Bem Melhor na Record News.

Seu desempenho nesse nicho da mídia não parou por aí. Atualmente, além das colunas já citadas, a empresária também escreve para a revista Start Life Magazine e Revista Camboriú assinando uma coluna social totalmente voltada à cidade de Camboriú, e foi convidada em 2018 a integrar a equipe do jornal Rede BC News.

Faz parte da ACJOMESC (Associação de Colunistas e Jornalistas Sociais de Mídia Eletrônica de SC) e já alcançou grande destaque no seu oficio de colunista e empresária:

Destaque Mulher Catarinense – 2011 (ABN);

Prêmio Excelência em Qualidade Catarinense – 2013 (STORY);

Moção de Congratulação da Câmara de Vereadores de Camboriú – 2014;

 Prêmio de Qualificação Profissional Catarinense – 2015 (ABN);

Homenagem pelo trabalho realizado no município de Camboriú, contribuindo valorosamente para o desenvolvimento e o progresso da cidade – 2016.

Karina Elisa tem uma visão muito especial do trabalho que desempenha como colunista social. Ela acredita que todas as pessoas, de uma maneira ou outra, sempre tem algo para compartilhar com a sociedade e que pode servir de exemplo, de inspiração ou provocar momentos de reflexão, de lazer.

Ela tem um ótimo relacionamento com seus leitores, seguidores e espectadores. Recebe muitos e-mails, tem um retorno constante do seu trabalho e os atende com carinho e profissionalismo.

Seu foco é a cidade de Camboriú e Região. Sempre há eventos, acontecimentos importantes, gente que se destaca, ações que merecem serem divulgadas, projetos que precisam de um empurrão, notícias que devem aparecer na coluna social. Atualmente, tornou-se mais seletiva. Participa de eventos e festas que realmente a atraem, nos quais se sentem bem, com pessoas que lhe transmitem boas vibrações. Isso aconteceu a partir do momento que Karina, a mulher das sete vidas, gastou mais uma vida.

Para entender a história das sete vidas de Karina Elisa, temos que voltar a uma época anterior ao seu nascimento, quando ela já existia, mas ainda não tinha vindo ao mundo.

A mãe de Karina estava no quarto mês de gravidez e com 40 anos de vida, quando apareceu um cisto no seu útero. Os médicos que a atenderam foram enfáticos, deveria retirar o cisto e, ao mesmo tempo abortar o ser que levava com ela. Segundo eles, a possibilidade de acontecer problemas maiores era muito grande. A mãe, uma italiana durona e decidida, não se convenceu e recorreu ao médico Marcos Schaefer de Brusque. Ele orientou-a a esperar seu retorno do Japão, onde ele iria participar de um congresso. Prometeu que a operaria no seu retorno. Foi assim que aconteceu. O médico retornou, operou e correu tudo bem, a gravidez continuou sem sobressaltos e ficou programado que o parto seria em Brusque, acompanhado pelo mesmo médico. Porém, Karina resolveu antecipar sua vinda ao mundo, vai que alguém insistisse em que não deveria nascer? E no dia 29 de dezembro nasceu em Rio Negro (Paraná). A família que morava em Rio Negrinho (SC) e teve que atravessar às pressas a ponte, para ter o atendimento médico apropriado para o nascimento da futura administradora, professora, palestrante e colunista social. Essa foi a primeira vida que Karina Elisa gastou.

Dias depois do nascimento da sua filha Emanoella, em 1989, quando ainda estava recuperando-se do parto, Karina teve fortes hemorragias, perdendo muito sangue e sem atendimento profissional imediato, sua vida correu perigo, tanto que quando foi atendida por um médico, ele ficou surpreso por ela ter resistido.

Foi seu marido, Edson, que a ajudou a sobreviver. Ele procurou nos livros de faculdade até encontrar um medicamento que era indicado para hemorragias. Com isso, conseguiu estabilizar o organismo da esposa e ganhar tempo até ela ser atendida por um profissional. Essa foi a segunda vida que Karina Elisa gastou.

No dia 08 de dezembro de 2016, depois de um check-up geral, pouco antes dela alcançar o meio século de vida, foi detectada uma alteração em um nódulo no seu seio e o diagnóstico do médico foi categórico, direto e sem apelação. Estava com câncer de mama. O caminho era cirurgia, quimioterapia, radioterapia, muita fé, força de vontade e resistência. A meta era a cura. O objetivo era sobreviver!

Em momentos assim, quando o destino, a vida ou o próprio Deus nos colocam a prova, é quando surgem os verdadeiros guerreiros, lutadores natos, feitos de outra fibra e que não se entregam jamais. Parecem serem feitos com outros elementos, diferentes dos humanos que se entregam ao se defrontarem com qualquer obstáculo.

Para Karina Elisa, lutadora destemida, não foi uma tragédia. Foi mais uma luta que teria que enfrentar com coragem, decisão e, mais que nada, com alegria, pois para ela cada dia de vida é uma dádiva divina, um pequeno milagre.

O médico que diagnosticou o câncer informou que começariam imediatamente os procedimentos para atacar o mal. Cirurgia, quimioterapia, radioterapia e todos os tratamentos necessários para conter e acabar com o tumor. Com muita presença de espírito, ela falou que precisava de uns dias: seu aniversário aconteceria no dia 29 de dezembro, queria festejar o Natal, o Réveillon, entrar o ano novo curtindo uns dias de praia, relaxar com a família antes de entrar naquela batalha.

Geralmente, as pessoas afligidas por essa doença querem começar logo o tratamento, pois o medo da morte é muito forte. O fato de a paciente pedir tempo para férias, festas e lazer surpreendeu o médico, que acabou concordando com o pedido de Karina.

Conta ela que durante as festas de fim de ano e também no seu aniversário, em nenhum momento foi comentado, por familiares ou amigos, o que estava acontecendo com ela. Karina acredita que sua atitude foi fundamental para que tudo transcorresse normalmente, sem lágrimas, sem momentos desagradáveis. Ela pensava positivamente, se sentia pronta para enfrentar o que viesse pela frente, tinha uma fé enorme em que tudo sairia bem e no final estaria curada e pronta para continuar sua vida.

Depois das festas e das férias na praia, ela encarou mais de uma cirurgia, além de quimioterapia e radioterapia. Quando era dia de passar por algum procedimento, muitas vezes doloroso, ela levantava com alegria, feliz por estar viva e poder lutar. Ria sozinha, às vezes, porque seu corpo começava a apresentar reações que a impediam de ter uma vida normal, inclusive limitando sua mobilidade.

Maria Victória, a filha que desde pequena foi super apegada à mãe, sem deixar de ter uma relação especial com o pai, estava de férias em Camboriú quando Karina recebeu o diagnóstico. Ela acompanhou a mãe na consulta na qual foi dada a fatídica notícia. Segundo Maria Victória foi muito importante estar junto por vários motivos. Ela já estava em Joaçaba cursando Medicina e pode, apesar do forte impacto do diagnóstico, enxergar com certa tranquilidade o que estava acontecendo e, principalmente, o que aconteceria daquele momento em diante. Karina comentou com ela que tinha sido muito importante a sua presença, pois a partir do momento em que o médico comunicou qual era o problema já não tinha escutado mais nada, o impacto foi muito grande. Daquele momento em diante, Maria Victória começou a acompanhar todos os passos da doença e do tratamento, mesmo estando em Joaçaba e vindo sempre que era possível. Ela sempre enxergou a mãe como uma pessoa dinâmica, alegre, comunicativa, a todo o momento disposta a ajudar aos outros. A doença não desfez essa imagem e, mesmo nos momentos mais complicados, conseguiu ver na mãe aquelas características que sempre a tinham acompanhado. A atitude de Karina perante a doença, a sua maneira de ser, a enchem de orgulho e, cada vez que pode, manifesta a alegria de ser sua filha e de compartir momentos marcantes da sua vida. Tem certeza que a experiência, pela qual toda a família passou durante o tratamento, será muito importante para sua carreira como médica, pois possibilitou ter a visão do outro lado da história, de como o paciente e os seres queridos reagem.

João Theodoro, o filho que cursa farmácia e está desempenhando um papel importante dentro do laboratório, principalmente na parte técnica, relata que não foi feita uma reunião para anunciar o que estava acontecendo e aconteceria com a mãe. As notícias foram chegando devagar, até que para ele, em algum momento, “caiu a ficha” e percebeu que era algo grave. Para ele Karina sempre foi especial, independente do parentesco. Vê nela uma personalidade muito forte, com muito carisma, com autoestima sempre alta e com uma áurea de felicidade permanente. Sua postura foi essencial para que a família enfrentasse e passasse por a provação da doença. Em nenhum momento ele viu Karina expressando sofrimento, desânimo, autopiedade ou qualquer sentimento que a jogasse para baixo, afetando também o núcleo familiar. Quando ele percebeu que a situação era mais grave do que imaginava ao principio, foi invadido pela tristeza e chorou sozinho no seu quarto. Mas, a atitude de Karina, enfrentando tudo sem medos e com bom humor, fez com que ele também se contagiasse daquele entusiasmo e esperança.

Emanoella, a filha mais velha, passou por uma situação um pouco mais complicada. Ela era, e continua sendo, uma espécie de linha fora da curva da família. Tem uma visão diferente da vida e o que quer dela. Pensa no carpe diem, em viver um dia de cada vez e aproveitar ao máximo o momento. Muito unida aos seus irmãos, dos quais não se considera a irmã mais velha, teve ao lado deles uma infância feliz, com muito contato com a natureza, muitas brincadeiras, muitas lembranças que a marcaram. Quando recebeu a notícia da doença de Karina, ela estava com viagem marcada para o exterior. Tinha trabalhado duro no laboratório, juntando dinheiro e programando a viagem, deixando de lado sua carreira no campo da moda. A mãe a convenceu de que estava tudo bem, de que poderia viajar sem problemas, que tudo se solucionaria rapidamente. Não foi assim, enquanto estava longe, sofreu muito por não estar ao lado de Karina. Resolveu voltar mesmo tendo possibilidades de ficar mais tempo no exterior. Quando chegou, percebeu que Karina estava dando um show, dando lições de alegria e de como enfrentar às circunstâncias desfavoráveis. Resolveu voltar para o Havaí depois de perceber que a mãe estava enfrentando com muita decisão a sua luta contra o câncer. Uma vez lá, o arrependimento bateu novamente, o sofrimento por não estar no dia a dia, por não saber exatamente o que estava acontecendo, provocaram nela apreensão e tristeza. Sentiu que estava se distanciando da mãe. No seu retorno, após a cura de Karina, essa distancia entre elas foi superada. A mãe é um exemplo de vida para ela: mulher forte, decidida, positiva e transbordando alegria.

Com o avanço da doença, Karina teve que se afastar do laboratório, deixando a administração e outras tarefas para sua filha Constance, que se destacou na sua nova função, mostrando grandes habilidades administrativas.

Maria Victória, sua outra filha, que estuda Medicina, resolveu acompanhar de perto todos os passos do tratamento. Com autorização do médico responsável, ela presenciou desde a primeira cirurgia, fez curativos quando foram necessários, serviu de apoio para mãe em todo momento.

Karina Elisa era fumante e teve que deixar de fumar, pois além dos danos amplamente conhecidos por todos, o tabaco dificultava a cicatrização. Alguns familiares e amigos, para apoiar de alguma maneira seu esforço, prometeram parar de fumar junto com ela. A maioria desistiu em poucos dias. Já ela parou de fumar definitivamente.

Um momento delicado, para toda mulher, foi a queda de cabelo. Ela começou a se incomodar com a quantidade de cabelo que fica no travesseiro, depois de uma noite de sono. Combinou com o sua cabeleireira preferida, Andreza Pagani e, num domingo, raspou a cabeça. A cabeleireira chorava enquanto fazia isso, ela ria do choro da outra. Falava que o cabelo voltaria, com certeza. Essa profissional amiga a acompanhou mesmo depois de raspar sua cabeça. Fazia massagens no seu couro cabeludo e aplicava produtos que melhorariam seu cabelo, assim que ele começasse a nascer. Depois de atender Karina, ela passou a atender outras mulheres atingidas pelo câncer.

Karina recebeu apoio de muitas pessoas, não só de amigos e familiares. Sendo muito conhecida pela sua atuação no meio social e profissional, recebia ajuda de pessoas e grupos que nem imaginava ter alcançado com seu trabalho. Isso a fortaleceu ainda mais.

Edson afirmava, desde o momento do primeiro procedimento, que ela já estava curada, que só estava cumprindo o tratamento protocolar para ser liberada. Essa confiança do esposo, a certeza de que a cura viria, servia de combustível para sua alma, mantendo-a firme e com uma alegria que muita gente não entendia. Sabia que tudo era uma questão de postura, de posicionamento mental, emocional. A cura começa muito além do nosso corpo, em algum lugar remoto da nossa alma, da nossa mente, do nosso espírito. Essa era sua certeza e a transmitia à Karina. Porém, no seu íntimo, ele sofria um pouco, pois via de perto algo que durante toda sua vida profissional tinha visto acontecer com outros, mas numa relação profissional-paciente. Quando atinge a família é bem diferente, principalmente quando é alguém amado e considerado imprescindível para continuar a vida.

Como ela não adotou o papel de vítima, as pessoas do seu entorno, do seu dia a dia, a tratavam normalmente, mesmo sabendo do seu problema de saúde. Com pensamento positivo, fé, tratamento médico adequado e muito amor pela vida, Karina venceu a batalha contra a doença. Assim, Karina gastou sua terceira vida.

Perguntada sobre o que pensava, o que a afligia, o que a preocupava durante esse tempo todo, se tinha medo de não ter vivido alguma experiência, concretizado algum desejo antigo, viajado para algum lugar dos seus sonhos, ela respondeu que, se tivesse perdido a batalha, uma só coisa lamentaria: não ser avó.

Desse episódio importante da sua existência, Karina saiu com uma visão melhor do mundo. Percebeu que tinha que perdoar a todos aqueles que a tinham ofendido, magoado no passado. Ela mesma tinha que pedir perdão para algumas pessoas e para si mesmo. A mágoa funciona como um veneno no nosso organismo, na nossa alma e abre o caminho para coisas não desejadas.

Sua filha Emanoella acredita que Karina saiu da doença melhor, que mudou positivamente, descobrindo-se, descobrindo coisas novas, imaginando sua vida de maneira diferente, mas sem deixar de ser ela. Brilhando sempre.

Karina Elisa, a mulher das sete vidas, está pronta para trilhar novos caminhos, avançando na sua vida, encontrando novos objetivos, imaginando inéditas missões e metas. Só que resolveu ser mais seletiva em suas andanças pelo mundo. Plena de felicidade e muito caridosa, acredita que pode fazer muito mais. Por isso continua com algumas das suas atividades anteriores, acrescentando a de palestrante, procurando transmitir para as pessoas fé, força de vontade e postura positiva ante as adversidades.

Participa de vários projetos, se envolve com causas que considera justas e verdadeiras. Como sempre, dá um show de bons sentimentos, pensamentos positivos e atitude vencedora na vida.

Edson diz que não imagina sua existência sem Karina Elisa. Diz que ela é imprescindível para sua vida, que ela o completa, que ela traz para ele coisas que ele jamais alcançaria sozinho. A família admira a força dessa mulher, sua coragem e sua vontade de marcar sua presença no mundo.

Muitas pessoas pensam da mesma maneira. A mulher das sete vidas nasceu para brilhar e brilhará, se Deus assim o quiser, por muito tempo, iluminando com sua luz muitos caminhos, muitas vidas.

***

A vida é uma caixinha de surpresas, muitas vezes doces e tantas outras amargas. No dia vinte de janeiro de 2019 quando esta biografia já estava pronta, Edson nos deixou. Ele, que afirmava que não poderia imaginar a vida sem Karina Elisa, de repente deixou um vácuo enorme na vida dela, na vida da família.

Quem o conheceu afirma que ele era um homem carismático, muitas vezes fechado, mas gentil e totalmente dedicado à família e ao seu trabalho. Gostava de reunir amigos e familiares na sua casa, gostava de viver a vida do seu jeito, aproveitando cada instante com muito prazer.

Ele deixou um vazio, e nada poderá preencher. Era o suporte silencioso da família. Cuidava das compras, cuidava do cardápio e ia para o fogão com prazer, muitas vezes. Gostava de ter a todos por perto, compartindo sua alegria de viver.

Edson e Karina compartiram uma vida cheia de lutas e vitórias, cheia de alegrias e também com alguns momentos dolorosos. Estavam juntos, preparando-se para os anos vindouros, quando pretendiam passar o comando para os filhos e gozar um pouco mais da vida. Mas, o homem propõe e Deus dispõe. Assim, num dia inesperado, de repente, Edson partiu e Karina e seus filhos viram uma nova realidade que surgiu ante eles: a ausência imensa e dolorosa do marido e pai querido. Após este capítulo doloroso começaram a refazer seu mundo, da maneira que sempre fizeram, enfrentando e seguindo adiante, pois a vida não se detém, sempre continua, sempre avança e quem não a acompanhar fica para trás.

Na memória de muitos e principalmente de Karina e seus filhos, Edson permanecerá vivo para sempre, pois é uma presença forte e indelével, mas como a vida é uma caixinha de surpresas, esta história apenas pode estar começando.

1 comentário em “Karina Elisa Schweder de Lima”

  1. Pingback: 22 anos – Laboratório Camboriú | Revista Camboriú

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *