Desbravando novos caminhos, sem medo de ser feliz.
Mais de uma vez Karine acorda sorrindo, emergindo de um sonho que a levou até a casa da avó materna, onde ela subia em árvores, brincava livre, andava de bicicleta, se perdia no matinho e desfrutava de felizes férias no interior. Tempo dourado, dias maravilhosos.
Mas, não era só no campo que a alegria e a diversão envolviam Karine. Na cidade, seu avô paterno tinha construído um prédio e doado um apartamento para cada filho. Toda a família morava naquele prédio, o que era muito bom, principalmente para as crianças, que cresceram juntas, brincando, brigando e se divertindo.
Karine Portela Leal nasceu em Teresina (PI), a mais de três mil duzentos e cinquenta quilômetros de Balneário Camboriú (SC). Veio ao mundo no dia 19 de março de 1979, numa família que a recebeu com muito carinho.
Ela tem plena convicção que sua infância, no meio de tantos primos e outros parentes, foi a melhor época da sua vida.
Pelo que ela mesma conta, era um bastante mandona, dominadora e briguenta. Brigava até com os primos mais velhos, sem medo, comandando a turma. Era uma verdadeira garota pimentinha.
No colégio sempre foi muito preocupada com os estudos. Não levava desaforos para casa e resolvia ela mesma suas pendências. Não gostava de levar problemas para o lar. Era a líder da turma, comandava tudo, inclusive as brincadeiras. Mesmo tendo um perfil competitivo e de comando, suas melhores amizades, que perduram até os dias de hoje, vem daquela época. Ela faz parte um grupo que se comunica por um aplicativo e, anualmente, dão um jeito de reunir. São amigos que conseguiram se manter unidos, vencendo o passo dos anos.
Ela tinha um bom relacionamento com os professores. Lembra com carinho da Tia Márcia, da 2ª Série, uma professora que deixou uma marca indelével nela. Em realidade, era muito ligada aos professores, mesmo aprontando algumas brincadeiras, tinha o reconhecimento deles.
Gostava bastante de Geografia, História e Ciências. Gostava de ler muito, tinha a curiosidade aguçada, queria saber da história dos povos, de outras culturas, conhecer o mundo. Essa curiosidade permanece viva e forte.
Na parte de esportes, dedicou-se à dança aeróbica, participando de competições e ganhando alguns prêmios, entre eles um primeiro e um segundo lugar. Ela afirma que amava praticar dança aeróbica.
Karine cresceu com seus dois irmãos (Leanne e René) e uma irmã postiça, Rose, prima da mãe, com a qual se dava muito bem, como se fosse uma irmã. Não brigava muito com os irmãos e construiu uma relação de muito respeito com eles, que perdura até hoje.
Entre os dezesseis e os dezessete anos foi morar nos Estados Unidos da América. Naquela época, em Teresina e nas famílias que tinham poder aquisitivo, quando a menina completava quinze anos podia optar por uma viagem para Disney, uma super festa ou por um carro, mesmo que tivesse que esperar uns anos para poder dirigir.
Karine não quis nada disso. Queria morar fora. Foi isso que pediu para o pai. O pai foi contra. Achava ela muito novinha para enfrentar o mundo lá fora. Sugeriu que ela esperasse um pouco, uns anos.
Ela desviou sua atenção para outro assunto. Estava namorando um garoto da cidade e resolveram casar. Ela com dezessete, ele com quinze anos. Tudo pronto para o casamento, igreja, festa, convidados, mas o casamento não iria acontecer, o padre ligou para com o pai de Karine informando que o casamento não poderia acontecer, pois um parente do noivo informou ao bispo que o mesmo não queria casar. O mundo desabou naquele momento sobre a cabeça de Karine. Nem sequer foi o noivo quem deu a notícia. Alguém avisou e o noivo sumiu.
Aquilo, naquele momento e naquela cidade ainda tão provinciana, foi como o apocalipse para Karine. Chorou muito, se desesperou, mas não adiantava. Por mais lágrimas que derramasse o casamento não iria acontecer. Era o fim da linha.
Em realidade, há algo de misterioso naquele casamento não realizado. O noivo queria sim casar, tanto que após esse desfecho ele foi até a casa de Karine com seus pais e pediu para que Karine fosse embora com ele, mas os pais de Karine não aceitaram a condição sem haver um casamento. Passada a tormenta, seu pai acreditou que ali tinha a mão de Deus, que aquele casamento, naquele momento, não era para acontecer.
Após o ocorrido Karine viajou para Brasília para ficar um tempo com sua prima e o pai concordou, finalmente, que era a hora de viajar, sair da cidade, do país, esquecer aquele doloroso acontecimento.
Com o passar do tempo, Karine entendeu que não casar tinha sido uma coisa muito boa. Ela viajou para Oklahoma (USA), conheceu uma nova cultura, conviveu com pessoas diferentes, ficou fluente na língua inglesa e aprendeu a admirar à cultura americana.
A sua vivência no exterior, também lhe permitiu sentir ambientes diferentes ao quais estava acostumada. Cada povo, cada comunidade, tem uma maneira de se relacionar, de agir. Uns grupos são mais abertos, mais receptivos, mais alegres e divertidos. Outras comunidades são mais distantes, mais frias, mesmo cultivando amizades, porém de uma maneira menos afetiva.
Karine tinha feito alguns cursinhos de inglês, mas, antes de viajar, passou um mês com uma professora americana, estudando em um livro que tinha somente desenhos, nada de traduções ou legendas. A associação entre o desenho e a palavra era imediata.
Com sua simpatia e empatia, logo fez amizade na terra do Tio Sam. Uma das amigas, em terras do Norte, era Amber, que ganhava uns dólares extras trabalhando de babá. Ela gostou da ideia e também começou a cuidar de crianças. Segundo Karine, lá é normal os adolescentes trabalharem, fazerem bicos em distintas atividades, para ganhar uns dólares, poupar e depois adquirirem, por exemplo, seu primeiro carro.
Nos Estados Unidos da América não é proibido crianças trabalharem a partir dos doze anos, em atividades não perigosas (babá, entregador de jornais e atividades artísticas). Na internet pode ser encontrado um vídeo com um garoto de onze anos que pediu para cortar a grama da Casa Branca. E lhe deram a chance de cortar a grama, tendo a presença do próprio Trump, aplaudindo o gesto.
Faz parte da cultura do país crianças trabalharem em atividades que não representem riscos para a saúde. É claro que, mesmo lá, existem abusos e já se encontraram crianças com menos de doze anos trabalhando no campo, o que é proibido.
Em termos gerais, crianças que trabalham são bem vistas no país e foi o que Karine fez: trabalhou de babá, algumas horas por dia. Na casa onde morava, fazia parte da família um garoto que recebia um dólar por cada passeio que fazia com um cachorro. Uma maneira divertida e legal de ganhar dinheiro.
O horário escolar era um pouco diferente. Ela entrava oito horas da manhã e saía às três da tarde. O almoço acontecia na cafeteria do colégio.
Além de estudar, e ganhar uns dólares como babá, Karine passeou muito enquanto esteve lá. Se perguntassem para ela onde escolheria viver, se fosse possível, com certeza escolheria voltar para o gigante do Norte. Aprendeu a admirar aquele país. Enquanto estava lá, comparava, inevitavelmente, a realidade do Nordeste brasileiro com a daquele país. As diferenças eram e são abismais.
Quando veio para o Sul do país, percebeu que sua passagem por USA foi benéfica em muitos aspectos, alguns ela somente percebeu quando chegou a Santa Catarina.
Por exemplo, sempre falavam para ela que o pessoal do Sul é frio, distante e muito diferente do Nordeste. Isso para ela não representou problema nenhum. Ela já tinha passado por uma sociedade que é bem diferente da terra onde nasceu e se criou. Para Karine, viver no Sul é algo muito tranquilo, além de que acredita ter uma qualidade de vida muito melhor.
Quando chegou o momento de cursar uma faculdade, Karine optou por tentar Direito. Não conseguiu passar na primeira tentativa, acabou ficando com a segunda opção que tinha marcado: Ciências Contábeis.
No ano seguinte, passou no vestibular para cursar Direito. Não se formou, por diferentes motivos. A maternidade, a doença de um dos filhos, as viagens constante ao Rio de Janeiro para o tratamento desse filho, não seguir de perto o andamento das aulas, entre outras coisas, foi desestimulando Karine e acabou abandonando, faltando pouco para se formar.
Ao voltar de USA, Karine se reencontrou com o noivo que a deixou plantada, provocando um tsunami na sua vida. Ela já tinha percebido que a decisão de não casar não tinha partido dele, apenas um rapaz de quinze anos. Aquela atitude tão drástica e desagradável tinha sido algo imposto pela família. Reataram e casaram. Tiveram três filhos. Na época do casamento, ela tinha dezoito anos e ele dezessete.
Quinze anos e meio depois, eles se separaram. Para Karine foi uma decisão difícil, mas irreversível. Aquele menino que ela amou desde cedo, acabou se transformando num homem infiel, que não a respeitava e abusava da sua paciência. A situação era tão escandalosa que algumas das amantes, que ele teve, ligavam para ela sugerindo que o deixasse, já que ele não a amava mais.
Aquilo foi mais um duro golpe na vida de Karine. Ela vinha de uma família tradicional, com pais muito rígidos, vivendo em uma sociedade onde todos se conheciam e comentavam a situação que o casal estava vivendo. Como em toda sociedade provinciana, o divórcio era visto como algo imperdoável, principalmente se a decisão partia da mulher.
Na opinião do pai, ela deveria continuar casada, levando a vida e criando os filhos. Ele dizia que não era o momento certo para sair de casa, para abandonar o casamento. De jeito nenhum Karine teria seu apoio.
Já o filho maior, mais consciente da situação e entendendo tudo o que estava acontecendo, apoiava o passo que a mãe queria dar, comentando inclusive que ela parecia um político, só prometia e não fazia.
Ela morava num dos bairros mais caros de Teresina, num apartamento que era um sonho. Grande, confortável, luxuoso. O mesmo tinha sido comprado pelo pai do seu marido. Por esse motivo, quando decidiu se separar, teve que deixar em vinte dias o apartamento.
Foi morar num apartamento pequeno, ficando com o quarto menor e bem apertado, para não provocar um choque ainda maior na vida dos filhos.
Quando aconteceu a separação, ela era muito nova e decidiu que não queria mais ninguém na sua vida. O homem com quem casou foi seu primeiro namorado, não teve ninguém desde o dia que ele não apareceu para o casamento e quando finalmente casaram, depois que ela voltou dos USA. Com ele ficou mais de quinze anos e, no seu íntimo já tinha decido que depois dele não queria mais saber de ninguém. Porém, hoje admite que continua aberta para o amor, mas sem se estressar com isso.
Ela tem certeza que a separação foi positiva para ela e para os meninos. Os dois maiores tiveram mais contato com o pai, mas o menor, não. Era muito pequeno quando ela tomou a decisão que mudaria sua vida, tinha apenas três anos de idade.
Karine voltou a estudar e se dedicou a vender produtos americanos, montando uma verdadeira lojinha no seu apartamento.
Só depois de sete meses voltou a falar com o pai, que lhe negou o apoio num momento difícil. Ela não guarda mágoas, acredita que os pais, mesmo errando em algumas circunstâncias, não fazem isso por mal. Nenhum pai quer o mal e o sofrimento dos seus filhos.
Tempo depois da sua separação, já conversando com a mãe e o pai, aconteceu algo que mudou sua vida. A mãe de Karine vendia joias e uma das suas clientes era Alexsandra Diniz. Um dia, a mãe estava ocupada e pediu para Karine levar uma encomenda até Alexsandra Diniz. Karine foi lá, entregou a encomenda e conversou bastante com ela. Como frequentavam os mesmos ambientes, elas já se conheciam. Depois de uma longa conversa, quando Karine falou bastante da sua situação depois da separação, ela foi embora. No carro, Karine se perguntou por que não tinha pedido emprego. Teve uma oportunidade de ouro e deixou escapar. Não teve dúvidas, mandou uma mensagem para a empresária, pedindo uma oportunidade numa das suas lojas, informando que precisava muito de uma chance para recomeçar. Alexsandra Diniz respondeu que estava com uma viagem marcada e voltaria depois do Réveillon.
No mês de janeiro, a mãe de Karine ligou para Alexsandra e a mesma pediu para Karine ir até ela para conversar.
Desse encontro surgiu uma chance para Karine, ela havia tido quadrigêmeos e queria alguém de confiança, alguém em quem ela pudesse confiar totalmente dentro da empresa.
Karine aceitou a proposta de trabalho. O salário não era muito, mas ela estava desempregada e abraçou aquela oportunidade como se fosse sua tábua de salvação num mar encrespado.
Em janeiro de 2015, ela foi escalada para trabalhar duas semanas em cada loja. Sua missão era conhecer as pessoas, observar, analisar, registrar o que estava acontecendo. Em realidade, ela não sabia exatamente o que iria fazer, no que iria trabalhar. Cumpriu a tarefa que lhe foi dada com excelência, detalhando o que acontecia em cada loja, entendendo perfeitamente o funcionamento de cada unidade e apresentando um verdadeiro Raio-X do que estava acontecendo na empresa.
Karine, depois do seu relatório, foi contratada com Auxiliar de RH. Um mês depois, a responsável pelo setor foi promovida e ela assumiu como Gerente de RH, sendo responsável por doze lojas. Um desafio que ela encarou com muita seriedade e responsabilidade. Mesmo sem estar totalmente preparada para a função, foi buscar conhecimento, informações, foi estudar com uma disposição fora do normal.
Ela não tinha experiência em RH, mas não podia desperdiçar aquela oportunidade que, no seu mais íntimo sentimento, sabia que vinha de Deus. Chegava em casa e se metia de cabeça nos estudos, utilizando todas as ferramentas possíveis e ao seu alcance. Aquele foi o momento da grande virada em sua vida. Saía de uma separação muito complicada, desempregada, sem recursos econômicos para sair adiante e encontrava uma oportunidade única, a chance de refazer sua vida e a vida dos seus filhos.
Estava a mais de um ano sem contato com seu ex-marido. Ele não estava muito preocupado com a subsistência dos filhos. Simplesmente não pagava a pensão alimentícia. Em valores da época devia aproximadamente vinte mil reais. Pagou dezessete mil quando o oficial de justiça apareceu no seu apartamento e ele correu o risco de ir para a cadeia.
Depois daquele pagamento ele voltou a ficar relapso, “esquecendo” de pagar ou pagando o que queria, sem se preocupar muito com as consequências. O filho maior do casal, mais ligado a ele, pedia para mãe para não mandar o pai para a cadeia. Claramente, o homem estava influenciando o filho, usando-o para fugir das suas responsabilidades.
Nesse meio tempo, o ex-marido tentou voltar várias vezes, mas, Karine resistiu, mesmo sendo o homem que amou desde sua adolescência. Não tinha condições de voltar e ser novamente humilhada, desrespeitada e rebaixada moralmente.
Seu desempenho no RH começou a aparecer. No momento em que começou no setor tinha trinta e quatro anos e estava na sua plenitude como mulher e com todo um caminho profissional para percorrer. Karine prezou por um RH humanizado. Mesmo tendo que se equilibrar entre a empresa e o colaborador, sempre tratou de dar atenção às pessoas, muitas vezes fazendo um trabalho de psicóloga.
Como era de esperar, teve algumas dificuldades no começo. Mas contou com a ajuda de uma colega, Patrícia Bacelar, que a ajudou a superar todas as dificuldades. Com humildade, afirma que aprendeu tudo com Patrícia. Ela tirava as dúvidas, ajudava a resolver problemas, era seu apoio constante.
Dessa relação profissional nasceu uma grande amizade, que perdura até hoje.
Um dos momentos especiais da sua carreira foi quando ela participou, no comando, da inauguração de uma nova loja. Ela teve que fazer o que chama de PAP (ponto a ponto). Comandou vinte meninas, a atividade de dois carros de som, girando pelo bairro, anunciando a nova loja, cadastrando novos clientes, numa divulgação que teve um excelente resultado.
Numa cidade onde tinha muitas lojas da Ótica Diniz, a equipe conseguiu um faturamento recorde para o primeiro mês de atividade. Ela afirma, com total segurança, que “a gente só cresce quando saí da sua zona de conforto”.
Por esse motivo, acredita que sua separação, mesmo sendo dolorosa e com momentos de profunda preocupação, resultou em algo positivo para ela.
Se estivesse casada ainda, não tem nem ideia de onde estaria e fazendo o quê. Num momento de decisão, jogou tudo para o alto, torceu drasticamente o rumo da sua vida, resolveu ser ela mesma, buscando sua melhor versão, motivando-se, trilhando seu próprio caminho, transformando-se em protagonista da sua história, em vez de ser coadjuvante numa trama que não a agradava, não a deixa feliz, muito pelo contrário, a deixa triste e a machucava.
Ela desempenhou a função de Gerente Geral de RH por três anos. Comprometida, dedicada, fiel ao seu trabalho e a Alexsandra Diniz, tinha nela o apoio, ao mesmo tempo em que sentia que era de total confiança da empresária.
Diziam que ela era os olhos de Alexsandra Diniz, que nada escapava ao seu olhar e nada deixava de ser relatado com detalhes, ganhando cada vez mais a confiança da sua empregadora. Até quando ela resolvia situações complicadas ou simples, se sentia muito a vontade de conversar e relatar o que estava acontecendo. Era sua maneira de trabalhar e de ganhar o respeito da empresária.
Um cargo como esse e sendo próxima da patroa, gerava conflitos com outras pessoas, principalmente com aquelas que não procediam corretamente ou que almejavam o seu cargo, transformando-se em áreas de conflito para Karine.
Porém, pelo seu trabalho, sua atitude e pelo seu desempenho tinha o apoio total de Alexsandra Diniz. Isso gerava ciúmes em outros funcionários. Eles não sabiam, ou não queriam saber, que existia, além de uma relação profissional baseada na confiança, uma amizade antiga.
Em determinado momento, Karine constatou que não tinha mais para onde crescer. Tinha atingido o topo, acima dela, somente Alexsandra Diniz.
Naquele momento da sua carreira, aconteceu a chamada Caravana Diniz, quando o proprietário e outros diretores visitam as lojas franqueadas. É todo um acontecimento. Eles se reúnem com todos os funcionários, conversam com eles, escutam, analisam. A visita abrangem todas as lojas da região e termina com um coquetel de confraternização em um hotel.
O presidente da empresa, Arione Diniz, conversou durante um bom tempo com Karine e sentiu seu potencial. Já sabia algumas coisas sobre ela. Sabia que tinha hora para entrar, mas não tinha hora para sair, que era pau para toda obra, indo além das suas obrigações. Se era necessário limpar o chão, limpava, se a tarefa era arrumar a vitrine, lá estava ela. Sempre se virando nos trinta! Depois da primeira conversa, Arione Diniz afirmou que “essa garota tem grande potencial, tem grandes chances”.
O vice-presidente da empresa, Francisco Vidal, também conversou com ela e ficou com uma excelente impressão. Ela foi ao coquetel de confraternização e, depois, foi convidada para participar da Convenção Nacional de 2017, em São Luis no Maranhão.
Pela política da empresa, colaboradores com mais de cinco anos e que se destacam, ganham a chance de abrir uma franquia, recebendo todo o apoio e orientação da empresa. Naquela convenção, apresentaram três cidades que estavam prontas para receber novas lojas: Maceió, Salvador e Balneário Camboriú. Imediatamente, e sem nem saber exatamente onde ficava Karine circulou o nome de Balneário Camboriú.
Voltando para Teresina, conversou com sua mentora, Alexsandra Diniz, sobre sua intenção de se candidatar para a praia catarinense. Ela não gostou da ideia. Achou que era muito longe, na outra ponta do país, jogando um pouco de água fria no pensamento de Karine.
Dias depois, Karine foi convidada para participar de uma reunião, onde uma pastora estava falando. De repente, do nada, ela começou a dizer “tu, menina de olhos coloridos, tu que abres portas, todos os dias pergunta para Deus que dia Ele vai abrir uma porta para ti; Deus está mandando eu te dizer que já abriu a tua porta!”.
No começo, ela achou que não eram para ela aquelas palavras. Pensou que eram para a amiga que a acompanhava. Uma senhora bem velhinha, puxando do seu braço, avisou: “Ela está falando contigo”.
Imediatamente, Karine começou a chorar. A pastora continuou falando e dizendo que Deus estava lhe mostrando uma loja toda de vidro, com um puxador grande na porta. Quando estava saindo, a pastora colocou uma mão na cabeça de Karine e outra no peito e falou que estava vendo uma terra longe dali, via o mar e era um lugar muito bonito. Um homem vai te abençoar, concluiu a pastora, encerrando sua profecia.
Karine não conhecia o Sul do país. Nunca tinha estado em Balneário Camboriú, nem de férias. De repente, na sua cabeça, no seu pensamento, tudo se alinhava e sentia que Deus estava lhe abrindo uma porta, um caminho.
A convenção aconteceu em agosto e em outubro o presidente avisou que estava precisando de Karine para implementar uma nova loja. Quando ela foi conversar com o vice-presidente, Vidal, ficou sabendo que as outras lojas já tinham sido escolhidas. Sobrava somente a de Balneário Camboriú.
Karine sentia que era sua oportunidade. Pediu dinheiro emprestado para os pais, pois necessitava dele para abrir a franquia. No começo sentiu resistência. Sua mãe conversou com a pastora Graça e ela repetiu o que tinha profetizado para Karine. De repente, tudo começou a conspirar a favor de Karine.
Ela teve a coragem e finalmente instalada em Balneário Camboriú, Karine começa uma nova etapa na sua vida. Com muito esforço tem que conciliar trabalho e vida pessoal. Em alguns momentos tudo se mistura.
A loja consome muito tempo, se ela se descuidar passa o dia todo envolvida com a loja. Ela continua tendo hora para entrar, mas sem ter hora para sair. Porém, tenta organizar as coisas para ter um tempo para os filhos, para que sua família fique organizada e unida. O seu filho maior não se adaptou e voltou para Teresina, onde mora com os avós.
Karine Leal tem a certeza de que num futuro próximo vai conseguir expandir-se para outros municípios. Camboriú, Itapema, Bombinhas e outras cidades estão no seu radar. Ela está impregnada do espírito empreendedor. Encontrou seu caminho depois de alguns naufrágios na sua vida e não pensa em desistir.
Cheia de fé e entusiasmo, focada, segura e tranquila, tem clara noção do caminho a seguir. E não tem medo.
A menina que foi deixada plantada, praticamente no altar, continua viva dentro dela. Porém, cresceu. Amadureceu e isso não é uma contradição. Muito brincalhona, de sentimentos nobres, humilde e sem deixar que algumas coisas subam para a cabeça, ela continua sua luta.
A menina que corria pelo sitio da avó e que comandava as brincadeiras no prédio onde morava e também no colégio, continua viva dentro dela. Ela sabe que nunca devemos matar esse sentimento que vem da infância.
Essa menina, hoje uma empreendedora e com uma vontade imensa de crescer, alimenta um sonho que vem lá da sua infância: ela sonha com um sítio, uma casa, campo ao redor, árvores, uma casa para receber a visita dos seus filhos, que um dia criarão asas e voarão, pois ela não pretende criar seus filhos para ela, senão para que voem e conquistem o mundo.
Karine Leal conseguiu vencer as barreiras que a vida colocou no seu caminho. Ela pensa no futuro e não tem medo. Acredita que Deus lhe dará forças e armas para vencer qualquer obstáculo, para alcançar a vitória.
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