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LUZIA COPPI MATHIAS

    Uma líder nata

    Ela se emocionou quando a criança veio até seu gabinete, na Prefeitura, e a abraçou e falou: – “obrigado, muito obrigado, por cuidar de nós!”. Luzia, a primeira mulher a se eleger para ocupar o cargo de Prefeita na cidade de Camboriú (SC), se sentiu emocionada e realizada com as palavras e com o abraço da criança agradecida.

    Esse era exatamente o combustível que mexia e mexe com ela e que a empurrava e empurra sempre, turbinando seu trabalho, alimentando sua visão de mundo e sua vontade de ser sempre um instrumento de felicidade de muitos. Essa é sua meta, essa é a missão que considera uma das mais importantes da sua vida.

    Luzia Lourdes Coppi Mathias, natural de Camboriú, onde nasceu no dia 13 de dezembro de 1962, já deixou seu nome registrado na história do município e de Santa Catarina. Sem dúvidas, ela é uma filha destacada e será sempre lembrada pelo seu empenho e dedicação. Ela é filha de uma terra cheia de encantos, mas também com muitos problemas.

    Seu pai, Leo Marcos Coppi, era agricultor e seus irmãos ganhavam a vida cortando pedras, sem fugir jamais do trabalho ou das suas responsabilidades. Sua mãe, Benicia Linhares Coppi, esforçava-se para cuidar da casa e atender tanta gente, sempre exigindo atenção.

    Luzia ainda era uma criança quando a praia de Camboriú, depois de uma longa discussão, iniciada em 1952, se separou de Camboriú, a “Capital do Mármore” e se transformou em Balneário Camboriú. Isso aconteceu em 1964.

    Luzia teve uma infância muito feliz. Esse início de vida com tantos momentos bons foram o alicerce para uma juventude e maturidade plena de realizações pessoais, não isenta de sacrifícios e muita dedicação ao trabalho, ao estudo.

    A família era muito unida e ela interagia com todos, desfrutando muito da sua infância, do seu lugar, da sua cidade. Luzia lembra que sempre teve uma tendência irresistível a ser líder, a comandar a turma. Mesmo ela sendo a caçula e precedida por quatro irmãos. Gostava mesmo de comandar, de liderar, destacando-se sempre em qualquer grupo.

    Naquela época, onde moravam, no bairro Cedro, era uma área rural, com muitas plantações e com ruas e caminhos sem nenhuma pavimentação, apenas chão batido.

    Luzia adorava estudar. Ela lembra que gostava muito do OSPB (Organização Social e Política do Brasil), uma matéria antiga que a encantava e já dava sinais do seu interesse pela política, pela administração pública. Seu sonho era ser professora, abrir as mentes para o mundo.

    Morou com os pais até os 21 anos de idade. Em 1984 casou com João José Mathias, seu porto seguro. Mathias é nascido em Blumenau. Em 1984 nasceu Maísa, a primeira filha do casal. Dez anos depois ela foi buscar seu filho homem, Felipe, seu filho do coração. Ela tem um amor imenso pelos dois filhos. João José Mathias lembra com muitos detalhes quando e como conheceu aquela que seria sua futura esposa. Ele relata que foi num evento, no dia 15 de novembro de 1980. O motivo da reunião social era angariar fundos para a turma de formandos, do Colégio José Arantes. Luzia era uma das alunas que estavam terminando o Ensino Médio e partindo para a faculdade. Hoje ele sente que é esposo e grande amigo dela, formando uma família da qual se orgulha. 

    Luzia Lourdes Coppi Mathias nunca teve medo do trabalho nem fugiu das responsabilidades, um de seus primeiros empregos foi de vendedora numa loja de calçados. Otávio, empresário da terra, dono da Maristela Calçados, conta que estava começando seu negócio quando Luzia Coppi foi trabalhar com ele. Já era conhecida dele, através do contato das famílias. Ele comenta que ela era muito jovem, muito simpática, transformando-se praticamente em alguém da família. Ele afirma que ela foi uma ótima funcionária e que acabou deixando o trabalho para seguir outros rumos. Foi uma colaboradora que deixou boas lembranças.

    Ela trabalhou como manicure, como babá e também como doméstica. No Hotel Fischer, de Balneário Camboriú, desempenhou-se como camareira.

    Lembra, com muita alegria, que foi a primeira mulher a se inscrever no Colégio Agrícola, mas logo percebeu que ali não era seu lugar. Foi terminar seu Ensino Médio no Colégio José Arantes.

    Sabia o que queria na vida e resolveu correr atrás. Sua primeira tentativa para ingressar no curso de Direito, não foi bem sucedida. Eram poucas vagas para muitos candidatos, uma carreira muito concorrida.

     Porém, no ano seguinte, conseguiu e se lançou de corpo e alma na difícil empreitada. Estava se preparando para um futuro que ainda nem imaginava, mas que de repente, tomaria conta da sua vida.

    A sua família, seu pai principalmente, sempre foi muito ligado na política local. Frequentemente, aconteciam reuniões do MDB na casa da família e Luzia ia absorvendo tudo aquilo, recebendo informações que seriam muito úteis no seu futuro. Ela não sabia, mas a vida a estava preparando para desempenhar um papel fundamental no município.

    Certo dia, voltando de Itajaí, encontrou o Prefeito da cidade vistoriando as obras numa ponte. Ele a chamou e no meio da conversa a convidou para fazer parte da sua equipe, assumindo o cargo de Secretária de Administração. Ela aceitou e foi buscar nos livros o conhecimento necessário para desempenhar a função. Já estava mergulhando na administração pública, entrando de corpo e alma nesse mundo complexo, carregado de ciladas e, ao mesmo tempo, tão atraente.

    Em realidade, o organograma municipal não era tão claro e organizado. Muitas coisas eram incipientes no município, não estavam bem definidas.

    Por esse motivo, Luzia acabou assumindo funções de várias secretarias. Acabou atuando em três pastas: Secretaria de Administração, Secretaria Social e Secretaria de Saúde, tudo com muita naturalidade. Ela nem imaginava, mas estava se preparando para um futuro que exigiria dela muito conhecimento, muita sabedoria.

    Formou-se aos 21 anos de idade. Para vencer essa etapa da sua vida, foi quando trabalhou de camareira num hotel em Balneário Camboriú. Dessa época guarda boas lembranças, momentos marcantes. Sempre volta, na sua memória, aquela época de determinação e muito foco. Ela sabia exatamente o que queria para sua vida e colocava todo seu empenho para alcançar seu objetivo. Porém, comenta divertida, que não gostava de arrumar camas e trocava com as colegas: – “Eu limpava os banheiros, elas arrumavam as camas”.

    Com muita naturalidade, apesar de navegar num mundo dominado pela figura masculina, foi entrando na política, alimentando sua personalidade, que já tinha uma tendência para a liderança, com novas ideias, observando e aprendendo, percebendo que tinha muitas condições para enfrentar e se destacar naquela atividade dominada pelos homens.

    Luzia Coppi Mathias foi pioneira em muitas áreas da política local. Ela foi a primeira mulher da região a ser presidente do MDB. Desempenhou-se com brilhantismo na função, porém, por ser mulher, não lhe deram o espaço que merecia. Em algum momento, sentiu que estava pronta para se candidatar ao Executivo Municipal. Porém, seus companheiros de partido não entenderam assim e barraram seu caminho, frustrando suas expectativas. Na época a discriminação contra as mulheres era ainda mais forte. Como uma menina nascida no bairro Cedro, que só estudou em escola pública, que trabalhou de vendedora numa loja e de camareira, entre outras coisas, pretendia comandar um município que sempre fora comandado por homens?

    Ela percebeu que o preconceito estava muito enraizado e que não seria nada fácil vencer aquela barreira. Luzia comenta que aquela atitude mexeu com seu íntimo e acabou se transformando num grande desafio.

    – “Eu não sou de desistir’’, comenta. – ‘‘Gosto mesmo é de corrida com obstáculos, corrida em pista livre não me interessa”.

     Assim, acabou migrando e ajudando a formar o PSDB na cidade. Corria o ano de 1992 e ela se lançou como candidata a comandar o município de Camboriú, tendo como candidato a vice-prefeito Carlinhos Russi. Não se elegeram.

    Conta Luzia, sem nenhuma espécie de ressentimento e com uma ponta de orgulho por insistir e jamais desistir, que perdeu “três ou quatro eleições”, antes de alcançar seu objetivo. Tudo foi um aprendizado, um longo caminho, para preparar aquela jovem mulher para enfrentar e vencer todos os obstáculos que a vida colocaria em seu caminho.

    No PSDB ela teve chance de crescer e aparecer. Luzia Coppi Mathias foi eleita Prefeita em 2008 ao lado de Milton Antônio, seu vice. A primeira mulher a ocupar o mais alto cargo executivo de Camboriú. Está escrito na história e isso ninguém pode apagar.

    Em 2012 se lançou a reeleição e conquistou mais uma vez a Prefeitura da cidade, dessa vez tendo como vice-prefeito José Rodrigues Pereira, o Zé Branco. Se deu neste momento a comprovação de que uma mulher é sim capaz de administrar um município com determinação, coragem, inovação e responsabilidade. A vila de Camboriú passará a ser uma cidade. Ela ainda se orgulha de ser a única Prefeita a terminar os dois mandatos com o vice-prefeito ao lado, algo que não acontecia normalmente na cidade.

    Luzia Coppi Mathias afirma que foi a maior experiência da sua vida comandar a cidade. – “Fiz a gestão dos meus sonhos. Tive uma boa equipe que aceitou minha liderança e trabalhou unida. Foi uma administração corajosa, com visão de futuro, que conseguiu mostrar o potencial da nossa cidade’’, comenta. – ‘‘Foi um jardim de rosas na minha vida, mesmo com alguns espinhos no trajeto”.

    Na sua gestão, uma das suas preocupações, foi abrir caminhos para melhorar o acesso à cidade. Preocupou-se muito com a saúde, com as creches, com os colégios, com as pavimentações de ruas, com a mobilidade da cidade. Ela acredita que geograficamente a cidade está muito bem localizada, se conseguir se abrir para os outros municípios dará um passo imenso para se desenvolver.

    Sua maior dificuldade durante sua administração foi a situação econômica. O orçamento do município é muito limitado. Ela comenta que superou todos seus desafios, todas as dificuldades, com trabalho, dinamismo, coragem e, principalmente, fazendo seu trabalho com prazer, com alegria.

    A sua passagem pela Prefeitura também foi marcada pela atenção e abertura de espaço para as manifestações culturais e artísticas. Foi nessa época que Camboriú passou a ter inserido em seu calendário de atividades, programações, festivas que reuniam toda a família. Luzia considera que festas mexem com a cidade, com a população, atraem público e movimentam a economia da cidade. Todas as festas organizadas por ela tiveram entrada gratuita e foram financiadas pelo Governo Estadual. Para ela, gestão pública também é investir em bem-estar e alegria para a população.

    Quando terminou sua gestão, depois de oito anos, ela estava muito esgotada. No seu primeiro mês de férias, janeiro, se dedicou a descansar. Depois, advogou por um período e logo já foi chamada para o Diretório Estadual do PSDB.

    Mathias destaca, com muito carinho, as qualidades da sua mulher: – “Ela é uma gestora atuante, uma líder nata, de punho firme, excelente profissional e mãe maravilhosa. O seu pensamento está sempre em servir a uma comunidade, a uma cidade que está no seu sangue: Camboriú. Resiliência, perseverança, espírito guerreiro, são características de uma mulher batalhadora, guerreira e incansável quando se trata de trabalhar pelo bem da sua amada cidade. Ela conseguiu a façanha de vencer, num só pleito eleitoral, três ex-prefeitos: Andrônico Pereira Filho, Ainor Lotério e Edson Olegário”.

    Luzia Coppi é uma figura de destaque dentro do PSDB e na vida política de Santa Catarina. Mas, nada caiu do céu. Ela teve que se esforçar, se preparar, aprofundar seus conhecimentos, para alcançar esse lugar de destaque, para se transformar na líder que é, para mostrar que é possível quando se acredita e há o esforço para alcançar a meta almejada.

    Márcia Regina Oliveira Freitag, que foi Secretária da Saúde e também Vereadora no município, destaca que a marca registrada de Luzia é a sua força, dedicação ao trabalho, coragem e determinação. Ela afirma que essa coragem e determinação foram importantes para a atuação de Luiza Coppi na terrível enchente de 2008 e nas enxurradas de 2009. Foi uma mostra de superação de todo um povo, mas também mostrou a força e coragem de Luzia. – “A força dela naqueles dias de dor foram marcantes na minha vida’’, afirma Márcia Regina. – ‘‘Não dá para esquecer a forma humanitária como foi tratada a população e como foi reconstruído o município em tempo recorde, justo para o evento dos Gideões Missionários, que aconteceria em abril. Sou funcionária de carreira do município, já passei por várias administrações, mas nunca vou esquecer da nossa primeira reunião de secretários. Ela nos desafiou a planejar o município para trinta anos! Cada secretário, na sua área de atuação deveria fazer esse planejamento”.

    Márcia nos mostra, com seu testemunho, que Luzia Coppi não estava pensando em quatro anos ou numa possível reeleição. Ela imaginava e planejava uma Camboriú para no mínimo trinta anos. Isso é visão de uma pessoa mais preocupada com o futuro da cidade que com a sua própria sobrevivência política. Num universo onde quase todos pensam apenas em como se manter no poder, nos holofotes e dentro da máquina pública, uma mulher, Luzia, estava pensando muito longe, pensando numa cidade melhor, num futuro aparentemente distante. Trinta anos, para muitas pessoas, significa a metade da vida. Porém, pode ser pouco tempo para transformar uma cidade.

    – “É muito importante para um gestor’’, continua Márcia Freitag – ‘‘Ter essa noção de equipe, do trabalho coletivo, da união em torno de objetivos comuns. Por esse e outros motivos, avalio a trajetória da Prefeita Luzia como uma história de muita luta, muita persistência, mas de muito sucesso. Ela é uma vencedora!”.

    Essas palavras, proferidas por alguém que, com o passar do tempo, se transformou em amiga e admiradora, reforçam a imagem de Luzia como líder, como condutora de um processo criativo dentro da administração pública, coordenando a equipe, incentivando, provocando, unindo personalidades e mentes com diferentes pensamentos, para alcançar um objetivo que se torna comum a todos. Isso exige muita capacidade, empatia e determinação do líder. São características que não faltam em Luzia Coppi, uma mulher realmente determinada e batalhadora.

    No jardim de rosas de Luzia, apareceram alguns espinhos que a feriram. Luzia Coppi Mathias passou por situações extremamente desafiadoras, chegou a ser investigada, junto com outros amigos e colaboradores, algo que lhe deixou marcas que hoje a deixaram mais forte.

    Luzia resume essa etapa da sua vida numa frase: – “Todos nós que exercemos uma função administrativa, principalmente quem é Prefeito, estamos sujeitos aos órgãos de controle”.

    A menina do bairro Cedro, que já faz parte da história da cidade, sempre soube conciliar a sua vida pessoal com a vida pública. Tem o apoio da família e principalmente do marido, que gosta de política, mas não se envolve. Fazer tudo com amor é a grande dica que Luzia dá. Isso é fundamental, colocar amor em cada ação, em todo momento.

    Ela se vê como uma mulher de sucesso, como uma pessoa realizada. Tudo contribuiu para seu crescimento, inclusive as coisas negativas que aconteceram na sua vida.

    Ela é uma mulher feliz, realizada profissionalmente, num casamento feliz, com filhos maravilhosos. Perguntada sobre um desejo ela responde: Pessoalmente, quer ser avó e quer continuar na vida pública.

    Luzia Lourdes Coppi Mathias, foi mais uma vez candidata em 2020. Não se elegeu. Ainda no final do dia das eleições, as mídias sociais registraram uma declaração dela felicitando aos eleitos, principalmente o Prefeito. Demonstrando uma presença de espírito incrível, elogiando o processo democrático.

    Ela é assim: mulher de coragem e decisão, com muito foco e muita força de vontade. Sua história de vida, principalmente sua vida pública, não acaba assim. Ela tem muito para criar, muito para oferecer a sua cidade, ao seu povo.

    A menina do bairro Cedro, que de jeito nenhum gosta de tomar café sozinha, ainda vive e se emociona dentro da mulher adulta, Luzia Coppi Mathias, que já construiu uma história maravilhosa com sua vida, mas tem ainda muito, para acrescentar, para entregar. Ela é uma líder nata, guerreira vencedora, sem desistir jamais.

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