PET SHOP FLUCK’S

Humildade, determinação e muita honestidade: a receita do sucesso

Marcio Luís de Oliveira, que nasceu em 1969, na cidade de Itajaí, mas quase não teve tempo para aproveitar a cidade portuária, logo aos dois anos mudou-se para Balneário Camboriú. Thaila Luiza de Oliveira, filha de Marcio e Lussulina Ferreira de Lima também é protagonista dessa história, nasceu no mesmo balneário, mas tinha outro divertimento na infância, era apaixonada por cachorros. Ia para escola e no lugar dos cadernos e livros trazia um animal para casa. Com certeza a influência vinha dos seus pais, que possuíam um pet shop, mas isso você vai entender daqui a pouco.

Aos nove anos Marcio já conhecia o ambiente de trabalho. Seu pai, Nilor Nilo de Oliveira, atuava como pedreiro durante o dia e a noite levava o jovem junto para auxiliá-lo nos “bicos”, serviços extras para levantar dinheiro.

Ainda criança conheceu a dor, perdeu sua mãe Maurina Mabba de Oliveira aos onze anos. Lembra de receber a notícia na escola, enquanto estudava um de seus irmãos teve que contar o triste acontecimento que ficou marcado em sua memória, até hoje lembra do lugar em sua escola em que recebeu a notícia, da posição da cadeira, mesa e de cada detalhe.

Teve de virar homem logo cedo, seu pai que trabalhava em Itajaí se mudou, e ele junto com um dos irmãos ficou na casa. Tiveram que se virar sozinhos, venderam pipoca, maçã do amor, repolho, laranja, picolé e tudo que a criatividade permitia.

Entre as idas e vindas de seu pai, um desentendimento fez com que pegasse suas coisas e seguisse rumo a sua cidade natal, Itajaí, onde aos quinze anos trabalhou de marceneiro e ao mesmo tempo ajudava em uma casa de cachorros, lá teve seu primeiro contato com esses animais que iriam futuramente ser seu ramo de atuação e empreendedorismo. Nessa primeira jornada, atuava cuidando do jardim onde os animais ficavam, os levava ao veterinário e passeava com eles. Um ano depois teve a oportunidade de trabalhar em um canil, onde atuou por sete anos dando banho, tosa e cuidados extras.

Após a dona do canil decidir fechar, Marcio voltou para Balneário Camboriú para morar novamente com o pai. Nessa volta, conheceu a sua futura esposa que recentemente tinha se mudado para a vizinhança, fizeram amizade. Trabalhou em um posto e em seguida entregando jornal de bicicleta nas cidades de Balneário Camboriú, Itajaí e Navegantes durante o dia, a noite atuava como servente com o pai.

Durante anos forjou-se num verdadeiro guerreiro, trabalhava em qualquer serviço, 12, 14, e até 16 horas de trabalho faziam parte da sua rotina.

Marcio e Lussulina se aproximaram, se apaixonaram, e como se o destino tivesse juntado duas pessoas que tinham um amor em comum, os animais, logo se casaram.

Enquanto Lussulina trabalhava em um famoso hospital da região, o Santa Inês, onde atuava como servente de limpeza, Marcio continuou nos “corres” da vida e decidiram comprar um terreno. Na época era muito utilizado o dólar para pagamentos, e a entrada do terreno custava $700 dólares. Com ajuda de uma das patroas e de Nilo, conseguiram comprar e montar a casa.

Tempos difíceis se aproximaram, Marcio chegou a ficar um tempo desempregado. Tentou vender comida em festas de crianças organizadas pelo seu cunhado Odair, mas acabou não dando muito certo. No fim acabou recebendo um convite da irmã que morava em Joinville para procurar emprego na cidade, mesmo sem esperança que fosse dar certo aceitou. As esperanças iam ficando cada vez menores.

Em busca de trabalho em algum pet shop ou algo do ramo, suas opções foram acabando, restavam apenas duas empresas em Joinville para tentar o emprego, ligou e recebeu a notícia de que não precisavam de funcionário, e quando o último fio de esperança já estava se soltando, o atendente lembrou que conhecia uma empresária que estava precisando. Foi até a empresa para a entrevista, uma clínica veterinária e conseguiu o emprego. Dia após dia se esforçando foi alcançando a confiança dos donos.

Dividia o salário entre ajudar nas despesas da casa da irmã onde estava hospedado e enviando para a família, esposa e filha, sim, agora Thaila já estava no mundo e permanecia em Balneário Camboriú. Com muito orgulho lembra desses momentos difíceis. Posteriormente negociou com o dono da clínica para poder ficar em uma das salas que estava sobrando na clínica, para não incomodar na casa da sua irmã, já que era uma residência pequena e toda vez que alguém precisa usar o banheiro ou sair, tinha que mover e levantar a cama que ele usava para descansar.

Foram anos se alimentando apenas do almoço que a clínica oferecia, juntando cada centavo e vendo sua mulher e filha apenas uma vez ao mês. Certa vez sua irmã soube da situação e ajudou com alguns alimentos, e o orientou a mesmo tendo pouco, ajudar o próximo. Uma vez voltando pra casa um morador de rua pediu comida pra ele, e mesmo passando fome repartiu a metade do que tinha em mãos.

Com o passar do tempo foi se ajeitando, conseguiu um quarto um pouco melhor que custava em média R$40,00 na época, levou a família para Joinville, mulher e filha.

Dois anos depois voltou para Balneário Camboriú, mas com um pensamento fixo na cabeça, queria abrir seu próprio negócio. Pensou, pensou e pensou, ele e a esposa amavam animais, ele sabia atuar na área, então decidiu juntar o útil ao agradável e abrir o pet shop. Inicialmente começou sozinho, atuando e cuidando de todas as funções da empresa.

Equipamentos e dinheiro eram escassos, seu primeiro utensílio foi um secador. Entre cheques e negociações, conseguiu comprar uma tesoura e uma máquina. Em 2001 iniciaram as atividades do Pet Shop Fluck’s em um pequeno puxado nos fundos na casa da irmã de Marcio. O nome se remete a várias qualidades em uma única palavra, segundo a irmã de Marcio, que deu a sugestão.

– “Eu lembro que no primeiro mês que trabalhei, ganhei R$125,00 e pensei que não daria nem pra pagar o sabão. Mas não desisti porque diziam pra mim que se o negócio sobreviver por três meses, ele vai pra frente”. Relembra Marcio.

Aos poucos a busca pela empresa foi aumentando, fazendo Marcio sonhar cada vez mais alto. O primeiro passo da consolidação foi pedir para Lussulina sair do trabalho do hospital e ir para o pet shop com ele. Desde então a ascensão não parou.

Um momento marcante dessa nova jornada foi quando sentiram a necessidade de comprar um carro para buscar os animais, fazer o famoso leva e traz, mas se não possuíam dinheiro, como iriam fazer? Por sorte do destino, Marcio encontrou um velho amigo, Edegar, o “Barboleta”, e em uma das várias conversas que tiveram, Marcio pediu o dinheiro emprestado pra comprar um Fiat 147 e seu amigo de longa data o “Barboleta” emprestou com a seguinte frase: – “Se você me pedisse antes, eu já teria emprestado faz tempo. Eu vou te emprestar, mas você vai me devolver só quando conseguir, aos poucos, pois nossa amizade é mais importante”.

Marcio pegou o 147 numa sexta-feira e deixou estacionado na casa do pai. Na segunda-feira queria estrear o carro levando a filha na escola, já que no momento estava chovendo, ao entrar no carro percebeu que tinha mais água dentro dele do que na rua. Mas não se abalou, lembra disso com sorriso no rosto, já que o carro deu muitas alegrias para empresa, mesmo “dando trabalho” diversas vezes e tendo que tomar o famoso empurrãozinho pra pegar.

Certo dia estava Marcio, Thaila, Lussulina e o sobrinho Edson voltando pra casa no carro e de repente uma das rodas de trás do caiu, fazendo passarem por maus bocados. Mas hoje essas são histórias para recordar e gargalhar.

Foram se passando os anos, cada dia e mês foram sendo consolidados. Compraram um carro novo, ampliaram o pet shop transferindo-o para uma construção na frente da casa do pai de Marcio, contrataram mais funcionários e foram se especializando, ganhando mais da parte da fatia de clientes do ramo.

Pessoas tentaram fazer de tudo para que o empreendimento não prosperasse, denúncias iniciais foram sendo feitas a prefeitura, cobrando a regularização da firma. Denúncias cobrando um veterinário comprovado dentro da clínica. Mesmo assim, já com experiência e um bom tempo de serviço, Marcio juntou as pedras que tentaram arremessar na empresa e montou o seu castelo, ninguém conseguiria destruir o sonho do guerreiro e nem plantar mágoas em seu coração.

– “Se você tem um sonho, tem que batalhar, você tem que correr atrás, mas nunca passando por cima das pessoas. Coloque Deus em primeiro lugar. Lembre-se que os momentos ruins não são para sempre, pode demorar, mas você vai encontrar a saída e chegará lá” – Finaliza Marcio.

Lussulina foi fundamental para que o projeto desse certo, se doou de alma e coração. Trabalhou nessa jornada por 12 anos até ter a merecida aposentadoria. Para suprir a confiança e apoio da mãe, Thaila aos 16 anos foi convocada para fazer parte do Pet Shop Fluck’s, ela que mesmo antes de assumir um papel dentro da empresa quando criança ajudava o pai segurando os cachorros para que ele fizesse a tosa. – “Era engraçado, eu ficava segurando eles pelas pernas, mas com todo carinho e cuidado do mundo, sempre amei os animais, desde que me conheço por gente eu amo eles”.

Quando criança, Thaila já tinha uma certa facilidade em gerenciar os próprios amiguinhos, uma das suas brincadeiras preferidas era a de escolinha, ela pedia para a mãe dos amigos deixarem ela cuidar deles, uma espécie de creche, só que gerenciada por uma criança.

Já no colegial, mostrava seu interesse em matérias como ciências e biologia, talvez já soubesse em seu interior no que gostaria de trabalhar quando fosse adulta. Lembra que foram épocas bem difíceis pra ela, pois ajudava o pai durante o dia e estudava a noite, e como gostava de sair com o pessoal do colégio, acabava chegando tarde em casa, fazendo com que algumas vezes chegasse tarde no serviço, motivo que levou os dois a se desentenderem algumas vezes.

Entre esse “amor e ódio”, certa vez o estresse e o cansaço transbordaram e os dois, pai e filha, decidiram desfazer o negócio, encerrando as atividades da empresa. Ela que não sabia fazer outra coisa além de cuidar dos animais, teve que ir em busca de outro emprego aos 18 anos.

Encontrou uma oportunidade em um supermercado, mas percebeu que era totalmente diferente trabalhar com a família do que trabalhar com pessoas que você acabou de conhecer, tem que respeitar, ouvir e “baixar a bola”, como ela mesma diz.

– “No mercado você estava de frente com o cliente, ele não liga quem não colocou preço, quem não fez a reposição, quem fez algo errado, você que vai escutar”. Recorda Thaila.

Após um breve período saiu do supermercado e foi trabalhar em uma padaria, onde aprendeu a fazer café. Mesmo gostando da patroa, não se dava bem com os serviços que tinham que ser feitos. Sentia que alguma coisa faltava pra se completar, faltava a última peça do quebra-cabeça que dava a luz para a felicidade.

Nesse meio tempo foram refazendo o laço de amizade, Thaila e Marcio voltavam a conversar e ter aquele afeto que toda filha e pai devem ter. No fim, resolveram dar uma segunda oportunidade ao negócio juntos, ao pet shop. Sabiam que tinham em mãos R$1.000,00 e os equipamentos que sobraram da primeira tentativa, com isso reabriram e se esforçaram ao máximo para dar certo, desta vez.

– “A história de superação deles me marcou, na época que fecharam o pet e Marcio foi trabalhar de pedreiro para sustentar a família, um ato de que demonstra comprometimento, responsabilidade. Hoje já sou cliente a mais de 15 anos”. Conta Josiane Spoltti.

O convívio de Thaila com a mãe era ótimo, via nela uma inspiração, uma verdadeira guerreira. Lembra que no início até brincava com ela – “Mãe, vai pra casa, você não precisa ficar no pet shop porque eu estou aqui. Mas quando chegávamos em casa nossa comida estava pronta na mesa”.

Anteriormente quando os três, pai, mãe e filha trabalhavam juntos, via Lussulina trabalhando, indo pra casa preparar o almoço, lavava roupa, cuidava da casa e fazia tudo ao mesmo tempo, sem reclamar e com sorriso no rosto. “Agora que estou casada vejo como é difícil ter tempo e disposição pra tudo, tem que trabalhar, cuidar da casa, fazer comida e diversas atividades do dia a dia’’, finaliza.

No início a jovem teve o papel de assistente nos serviços, fazendo itens mais básicos e ganhando experiência. Mas sabia que não seria fácil, foi então que Marcio propôs uma parceria, Thaila seria sua sócia, com 50% da empresa, assim a responsabilidade aumentou. Aos 13 anos já sabia dar banho corretamente, aos 16 foi realmente para a empresa e aos 19 firmaram a parceria.

Após anos de lutas, batalhas, degraus subidos, Marcio agora consegue ter mais tempo para si, ainda mais tendo seu braço direito, sua filha ajudando na administração da empresa. Gosta de pescar, um de seus passatempos preferidos, consegue tirar uns dias pra viajar com a mulher.

Thaila tinha o sonho de ser veterinária, mas como a faculdade não existia em Balneário Camboriú acabou entrando para o curso de administração, terminando de se formar em 2019. No meio do curso, acabou aparecendo uma faculdade com o curso de médica veterinária, mas decidiu primeiro finalizar o de administração e posteriormente adentrar-se no outro.

Infelizmente em 2020 o mundo se deparou com uma grande pandemia, o coronavírus (covid-19) que matou e prejudicou milhares de pessoas. Mas pretende algum dia dar início a esse sonho.

– “Tenho Thaila como se fosse filha, sempre foi muito dinâmica, leal, integra, corajosa e uma empresária nata. Não espera as coisas acontecer, vai em busca dos objetivos. Admiro muito a mulher em que se tornou”. Angelina Schneider, amiga de infância de Marcio.

– “Certa vez uma senhora faleceu em Camboriú e deixou 10 cachorros, quando Thaila soube foi imediatamente ajudar a arrumar um lar pra eles. Sempre que pode ajuda”. Ivaldete Terezinha.

Marcio não vê o seu pet shop como uma empresa enorme, mas vê nela uma empresa saudável, com grande fluxo de clientes, tendo as vezes que remarcar procedimentos para um ou dois dias posteriores por causa da agenda superlotada, diz que após abrir sua empresa a vida mudou, consegue viver e ser feliz, sem nenhum arrependimento. Possuem a intenção de futuramente ampliar, quem sabe uma nova filial.

– “Marcio é um amigo querido e excelente profissional, eles cuidam a mais de 15 anos dos meus cachorrinhos com honestidade e responsabilidade, que é um dos traços mais marcantes do Pet Shop Fluck’s. Me mandam notícias e fotos sempre do que acontece com meus cachorros”. Comenta Milva, uma das primeiras clientes.

Para sua vida pessoal, quer passar mais alguns anos na empresa e assim que Thaila assumir totalmente ela, aproveitar o descanso muito merecido viajando, seja de carro, ônibus ou avião, adora viajar seja lá como for e para onde for. Até a pé gosta. Mas claro, sempre com sua família, seu bem mais precioso.

– “Marcio Luís, um garoto pobre que conquistou um grande negócio. Pode ter gente que acredite que o que eu construí foi pequeno, mas pra mim é enorme. Para um garoto que era analfabeto e que muitos não davam bola, que nunca ganhou nada, que muitas vezes era deixado de lado, mas que conseguiu vencer”. Marcio ao se definir.

Para Thaila, Marcio é seu tudo, seu porto seguro, o homem mais honesto e guerreiro que já conheceu. Assistiu de perto momentos em que ele se decepcionou, foi injustiçado, mas nunca perdeu as esperanças e a honestidade: – “Me ensinou a ser honesta, humilde”. As vezes via nele certa fragilidade por achar que só existem pessoas boas no mundo, mas ela sabia que não é bem assim que o mundo funciona, que existem pessoas que podem se aproveitar da bondade das outras para tentar tirar algum proveito. – “Vou definir meu pai em três palavras: honesto, guerreiro e herói”, afirma.

Hoje, Marcio se orgulha em dizer que possui o pagamento dos funcionários em dia, pode dar uma vida confortável para sua família e possui uma empresa consolidada no mercado da região. Atualmente, possuem serviços como consultório, leva e traz, banho e tosa, medicação, acessórios, rações e pretendem adicionar serviços como creche e hotel para animais.

– “Ele foi em busca do sonho de ter seu pet shop, pra realizar esse sonho ele economizou muito, passou por dificuldades, mas nunca desistiu. Ele é muito inteligente, por mais que muitas vezes o dinheiro faltou, ele foi criativo para montar seu negócio. Quando se fala de determinação, ele é referência pra mim. Agora com o auxílio de Thaila que está trazendo modernidade e mudanças necessárias, tem tudo para expandirem cada vez mais”. Micheli Aparecida, ex-nora de Marcio.

Pet Shop Fluck’s está em constante evolução, com um começo comum, de dificuldades e muita esperança, estruturada por um grande homem de imenso coração, hoje passa por um período de transição, Thaila está assumindo cada vez mais funções na empresa, até que Marcio possa descansar e viver um pouco do que junto conquistaram. Sem dúvidas, ouviremos falar muito ainda desse pet shop que está chegando a sua segunda geração, e que com certeza chegará em muitas outras.

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