Sem saber já nasceu artista, a arte estava no sangue
Um dia a futura mãe de Potyra foi até o circo, que era uma atração na cidade de Lages (SC) onde morava. Parece que na entrada mesmo, antes do espetáculo, conheceu um dos artistas, que no momento estava recolhendo os bilhetes, e os dois se encantaram. Potyra não sabe muitos detalhes da história. Sabe que seu pai já viajava com circo e que sua mãe, apaixonada, abraçou a vida de espetáculos, passando a integrar a companhia dos artistas.
Tempo depois, mãe e pai abandonaram o espetáculo circense e montaram um restaurante na cidade de Joinville. O casal teve Pablo Diego, Indyanara e a caçula Potyra Najara, que tinha um ano quando os pais se separaram. Por não ter convivido com os pais na época de circo ela não tem certeza se sua veia artística vem da genética ou se simplesmente nasceu nela um dia qualquer, em algum momento que ela não consegue identificar.
Ela morou pouco tempo em Joinville. Era uma menina alérgica às flores numa cidade povoada de flores. Com três anos de idade foi morar em Lages e, depois, já com seis anos, em Balneário Camboriú. Dessa época ela tem algumas lembranças. Gostava de brincar muito, de comer fruta do pé, no pomar que tinha no quintal de casa, e estava sempre com sua fiel companheira, a irmã. A mãe trabalhava bastante para manter a família, pois a vida não era fácil para uma mãe sozinha com duas filhas. Neste tempo o irmão de Potyra já morava em Lages com sua avó materna. E o pai não tinha convívio.
Na escola Potyra se dava bem com os professores e colegas. Adorava ler e era uma boa aluna. Sempre gostou muito de se relacionar, de manter contato com as pessoas.
Aos nove anos ela começou a praticar judô. Isso trouxe para sua vida muita disciplina, focalizando metas, enfrentando treinos que exigiam muito dela. Mesmo tendo que viajar para competir não deixou de ser uma das melhores alunas da classe. O esporte, o judô, lhe proporcionou momentos maravilhosos. Até os dezoito anos ela foi uma atleta destacada, sendo dezoito vezes campeã catarinense, três vezes consecutivas campeã dos Joguinhos Abertos de SC, no Campeonato Brasileiro trouxe o terceiro lugar fazendo parte da seleção Catarinense de Judô. Em 1995 ganhou o troféu O Jornaleiro, sendo considerada a melhor atleta feminina de judô do estado. Guga Kurten (tênis) e o Xuxa (natação), também receberam o troféu, que Potyra recebeu das mãos de Felipe Scolari, o Felipão, em uma grande cerimônia em Florianópolis. Até hoje ela lembra com emoção daquele momento mágico na sua vida no esporte.
Um dia, quando ela tinha doze anos, sua irmã resolveu fazer um curso intensivo de teatro que seria ministrado no antigo prédio do Fantástico, em Balneário Camboriú. Ela foi junto e simplesmente se apaixonou. Foram sete dias que serviram para dar o pontapé inicial na sua carreira artística.
Pouco tempo depois participou num espetáculo com a temática de terceira idade no Teatro da Univali, em Itajaí. Também participou de uma performance na inauguração do BESC em Balneário Camboriú. Analisando sua carreira, podemos afirmar que esse foi o começo do seu caminho dentro das Artes Cênicas.
Por alguns anos misturou esporte com arte, transformando sua rotina numa interessante amalgama. Nem dá para entender como ela conseguia encaixar tudo na sua vida: praticar judô, estudar, ensaiar, representar e, ainda, levar adiante sua vida buscando se aperfeiçoar em tudo o que fazia.
Aos dezoito anos fez um curso de teatro durante seis meses. Naquele momento, seu lado artístico começou a falar mais forte. Dos quarenta alunos, cinco foram convidados para fazer parte da companhia artística. Ela foi uma das escolhidas. Trabalhou na companhia durante 14 anos.
No mesmo período, no auge do início da vida adulta, seu primeiro emprego regular foi no supermercado Angeloni. Porém, continuava desenvolvendo sua carreira artística. Potyra conta que trabalhou durante dois meses antes da inauguração do supermercado, mas depois de aberto não chegou a trabalhar duas semanas. Ela tinha uma pergunta crucial na sua mente: gostaria que seus companheiros do teatro a visitassem trabalhando no supermercado ou que os colegas do super a fossem ver numa apresentação? A resposta a essa pergunta a levou definitivamente para o lado artístico.
Nossa artista tinha um objetivo, queria cursar a universidade. No ano de 2003, passou no vestibular da UDESC para cursar Artes Cênicas: o seu rumo estava definitivamente traçado. O curso era em Florianópolis e sua residência em Balneário Camboriú. Durante os próximos quatro anos e meio foi e voltou à capital, incansavelmente, todos os dias.
Potyra Najara parece ter um dínamo interno, secreto, que lhe proporciona energia extra a todo instante. Ao falar, ao atuar, ao subir numa perna de pau e exibir sua destreza, ao imitar a leveza das aves quando está no tecido acrobático ou quando brinca num aro de metal, no meio do palco, enquanto as luzes acompanham seus movimentos elásticos e carregados de beleza.
Talvez ela se identifique com Clara, uma adolescente, personagem de um dos seus livros, que um dia resolveu abrir a porta e sair mundo afora, experimentando coisas novas, descobrindo pessoas e histórias, fazendo caminho ao andar. Sim, Potyra Najara também é escritora, com livros publicados (Debaixo de suas asas– 2012 e O Caminho – 2013) e participações em antologias, sendo ainda coautora do livro Contos que curam, que será publicado ainda este ano de 2019.
Atriz, escritora, arte educadora, artista circense, criadora, produtora, apresentadora, empresária, diretora, e, mais que nada, um ser humano incrível que gosta de se relacionar com outras pessoas, de fazer a diferença em qualquer situação. Para ela o importante é aproveitar as oportunidades que a vida proporciona para construir relacionamentos, ajudar outras pessoas a encontrar-se, provocar reações que levem à superação pessoal. Nesse sentido ela é pura emoção, procurando transmitir não somente humor ou palavras bonitas, mas sentimentos que sejam estopim para provocar o desenvolvimento humano. Ela age, conscientemente, como se estivesse jogando sementes pelo caminho, para que em algum momento floresça um mundo melhor. Sua principal frase é “A vida é agora!”, entendendo que a vida é neste instante e não no porvir, cada minuto é primordial, é neste momento que devemos abraçar a vida e as pessoas a nossa volta.
A lista de trabalhos, estudos, cursos, prêmios e conquistas de Potyra Najara é muito longa. Ela, com sua energia desbordante e que contagia, participou de muitas obras teatrais e de filmes, além de arrumar tempo para escrever, dirigir e produzir peças teatrais.
Numa era dominada pelas mídias sociais, ela aparece com frequência em vários vídeos, no YouTube e em outros canais, mostrando com uma espontaneidade incrível seu trabalho. Formada em Teatro, pós graduada em contação de histórias e literatura infanto juvenil, mestranda em Contoexpressão no Mestrado Europeu/Espanha, fundadora da NOVA Cia. de Teatro, Confreira na Academia de Letras do Brasil/Seccional Suiça, diretora do Teatro Municipal de Balneário Camboriú, é apaixonada pelo que faz.
Como toda pessoa que vive da sua profissão, sabe das dificuldades que deve enfrentar para levar adiante sua vocação. Poucas pessoas entendem as barreiras que um artista enfrenta e quanto custa produzir, montar uma peça teatral, um filme ou editar um livro. Porém, Potyra Najara enfrenta com um sorriso os obstáculos que aparecem e vai transformando problemas em soluções, abrindo caminhos, abraçando sua profissão com fé e muita energia, provando que é possível quando realmente se quer.
Vendo o que ela construiu até hoje, não é difícil prever seu futuro: será brilhante. Uma artista de fibra, com talento, disciplina, conhecimento e tanta energia merece o lugar que já está reservado para ela, um lugar de destaque como difusora da arte e da cultura.