Um mineiro fazendo história em Camboriú
Gostava de estudar e era aplicado nos estudos. Como tinha um sotaque gaúcho, sofria provocações, o que hoje chamamos de bullying. Ele não aceitava, por isso era considerado meio brigão. Nunca teve problemas com os professores, sempre foi disciplinado dentro da sala de aula, gostava de matérias como Português e História. Praticava futsal, atletismo e salto a distância.
Em 2000 passou no vestibular para Direito e, no final de 2001 foi chamado para servir no Exército. Como já gostava da farda fez um curso para oficial, ficando em primeiro lugar, e em 2002 fez estágio. Em 2003 já era Tenente do Exército Brasileiro, morando em Blumenau desde então até 2009.
A inspiração para cursar Direito veio de um tio, formando-se em 2007 e, ao mesmo tempo, desempenhando diversas funções dentro da atividade militar.
Em 2009 termina seu contrato com o Exército e volta para Camboriú. Seu projeto de vida era advogar, porém, quando se vestiu como advogado sentiu que esse não era seu métier, que outras atividades o chamavam com força irresistível. Sua vida dentro da esfera militar foi de grande crescimento pessoal, amadurecendo seu caráter, preparando-o para enfrentar novos desafios. Em junho do mesmo ano em que deu baixa no Exército Brasileiro, fez o concurso para a PM e passou, formando-se em 2011, vindo para Camboriú como Aspirante Oficial. Em 2013 alcança o posto de Subcomandante em Camboriú, 2015 chega ao comando da Policia Militar em Camboriú e, em 2017, atinge o cargo de Capitão, algo que até hoje o emociona muito, pois era um sonho antigo, desde os tempos de soldado.
Quem conversa com Tiago percebe quanto há de emotividade debaixo da sua fachada profissional, indispensável para desempenhar bem a sua função.
Ele conta que o relacionamento com seu pai não foi muito fácil na adolescência. Tiago aprontava muito e, naturalmente era repreendido. Hoje tem uma relação de muita proximidade com seu pai Hilário e mãe Marilene, grandes responsáveis por sua formação, além de seus dois irmãos mais novos: Leandro e Hilariane. Sair cedo, para servir e estudar em cidades longe de casa (Blumenau, Florianópolis), ajudou Tiago a amadurecer cedo e a vencer seu maior inimigo: ele mesmo. Servindo, em Blumenau, durante as trágicas enchentes de 2008, ele foi um dos heróis anônimos, um dos tantos que não aparecem em livros, em histórias, mas contribuíram de alguma maneira para salvar vidas, ajudar pessoas, mitigar dores e que, de alguma maneira, fizeram a diferença. Foi uma experiência marcante na sua vida, deixando uma marca indelével para sempre.
Ele acredita que alguns acontecimentos da sua vida o transformaram: o ingresso a Policia Militar, a sua história de amor com Jakelyne, esposa e confidente, a qual foi procurar lá em Minas Gerais e trouxe para o Sul, e o nascimento do seu filho Guilherme. A sua fé, firme e viva, o ajudam no dia a dia, a enfrentar momentos estressantes, situações críticas e fatos que derrubariam a qualquer um.
Ele é consciente das diferenças entre Exército e Policia Militar e o que as duas corporações fizeram na sua vida. Um está preparado para a guerra, para defender a pátria, para matar o inimigo. A outra, a Policia Militar, tem outro tipo de vivência. As tropas tem um caráter mais permanente, atuando numa esfera estadual, preparada para servir à comunidade. Vive no eterno equilíbrio de prevenir e reprimir, e ao mesmo tempo proteger e ajudar. Segundo ele, quanto maior for a prevenção, menor será a necessidade de prender, de reprimir. Tiago elabora uma figura muito interessante. Fala que ser PM é como andar descalço no asfalto quente. Ao princípio o asfalto queima e até pode doer. Depois as solas dos pés vão calejando e acaba formando uma capa protetora, que reduz o calor e os efeitos sobre as solas dos pés. A cada tanto, o policial deve ter a consciência de que precisa raspar as solas, retirar aquela capa, para não correr o risco de ficar insensível ao calor do asfalto, ao calor da vida que o rodeia.
Conta Tiago Teixeira Ghilardi que uma noite atendeu uma ocorrência que até hoje não consegue esquecer e que, cada vez que fala nela, se emociona. Foi chamado durante a noite. Um conhecido seu, policial militar, matou a esposa, o filho pequeno e se suicidou. Ver aquele quadro dantesco, aquela tripla tragédia, com o agravante de envolver alguém que conhecia, o afetou profundamente. Quando voltou para casa, arrasado, foi até o quarto onde seu filho dormia, o beijou várias vezes, com cuidado para não acordar; foi até onde estava sua esposa, beijou-a e depois se fechou no quarto de hóspedes, e desatou a chorar até o amanhecer.
Ele tem muitas histórias de momentos marcantes na sua carreira como policial militar, tantas que não cabem em poucas páginas.
Tiago Teixeira Ghilardi, além de comandar a PM de Camboriú, faz parte do projeto PROED e do Sou estudante, Sou cidadão (uma concepção sua, aplicada no Colégio CAIC de Camboriú, famoso por seus problemas disciplinares). Nesse projeto, inquietude pessoal de Tiago, a meta é transmitir ensinamentos, disciplina, civilidade, aproximar à comunidade da PM, reforçar o orgulho nacional, mudar realidades, recuperar o respeito pelo país e seus símbolos.
Aprofundar sua fé, ter a família sempre perto, fazer com o exercício da sua profissão a diferença, são alguns dos pontos que Tiago persegue. Considera-se um ser humano em permanente transformação. Pai, filho, neto, bisneto, em constante evolução. Procura conectar-se com as pessoas, procura ser entendido por elas, sempre tentando acertar. Sente-se feliz, mesmo que, de vez em quando, seja atacado por certa ansiedade. Em alguns momentos já se sentiu arrogante, mas busca apagar essa imagem, considerando-se um ser humano com uma grande placa sinalizando: “Tiago Teixeira Ghilardi, em construção”.
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