Um menino do norte apaixonado por uma cidade do sul
Nasceu em 1966 um menino em Condeúba no interior da Bahia, mais conhecido como o Zé Branco. Como filho mais velho entre os oito irmãos, era referência, teve que ter responsabilidade logo cedo para auxiliar nos cuidados dos irmãos.
Zé Branco tinha suas responsabilidades desde cedo, aos sete anos já tinha que trabalhar na colheita de arroz, feijão, cuidando do gado.
Os estudos eram muito mais rígidos, era difícil alguém conseguir completar a escolaridade, pois mesmo crianças, já eram enviadas ao mercado de trabalho para ajudar no sustento de casa. Com apenas quatorze anos cuidava de uma fazenda de 40 hectares, e aos quinze anos foi convidado a assumir a responsabilidade de montar um grupo de funcionários para irem trabalhar nesse tipo de fazenda.
Teve o peso de vinte e oito funcionários sobre as suas costas. Nessas viagens cada um do grupo tinha que se virar, o desempenho tinha que ser extremamente bom, caso contrário você voltava pra casa sem dinheiro.
Aos quatorze anos, foi pegar algodão como um funcionário normal, lá, cada um levava o seu galão de água de dois litros pra tomar, já que não existia a possibilidade de sair no horário de expediente, e sabia que o algodão seco é mais leve que o úmido, na ocasião no fim de um expediente tinha sobrado meio litro de água e existia um saco de algodão pela metade, onde despejou a água dentro, sem saber que o diretor da fazenda estava o vigiando a vinte metros de distância.
Em seguida o diretor se dirigiu até ele e perguntou o motivo de ele ter feito isso, inusitadamente Zé Branco foi sincero e direto, falou que era para pesar mais e consequentemente ganhar mais dinheiro. O diretor o mandou passar em sua sala no dia seguinte antes de ir a lavoura. Zé Branco passou a noite inteira em claro pensando no que tinha feito e que seria mandado embora. Chegando na sala do diretor, ele o deu uma caneta, um caderno e ordenou que ele escrevesse seu nome, data de nascimento, nome dos pais, resposta das contas “2+2”, “3+3”, “4+4”, o nome da fazenda onde morava e solicitou o caderno novamente.
Perguntou a quantidade de algodão que José colhia e avisou que a partir daquele momento ele não iria mais trabalhar pegando o algodão, que não iria mais para a lavoura, ele agora seria o encarregado de pegar todo o algodão das outras pessoas, pesar e passar tudo para o caderno. – “Errar, todo mundo erra, mas reconhecer o seu erro é uma das qualidades mais bonitas que as pessoas podem ter”. Comenta Zé Branco.
Por causa dessa situação que vivenciou, aprendeu que a honestidade e a fidelidade são características imprescindíveis para as pessoas, recebeu uma oportunidade por ter sido sincero. Talvez por ser precoce nesse mundo cheio de responsabilidades e pressão, lá ainda pelos quatorze ou quinze anos já possuía um olhar diferente sobre o mundo, sabia onde queria chegar, onde queria estar e por onde começar. Por não ter telefone, celular ou computador na época, ficava meses sem falar com os pais, trazendo uma certa independência também cedo.
O apelido curioso, Zé Branco, surgiu anteriormente, logo na infância aos seis anos, onde possuía um primo que era negro, para evitar o chamar de “Zé Preto” que mesmo carinhosamente muitas pessoas poderiam interpretar de outra maneira, optou por ele mesmo ser chamado de Zé Branco. Desde então o apelido foi pegando e hoje muitas pessoas o conhecem por ele e não como José. Até os dias atuais, quando os primos se encontram gostam de brincar que um apelido de infância perdura até os dias atuais.
Aos dezessete anos decidiu ir em busca de novas possibilidades, pensava em ir para outro estado, sair da roça, queria um lugar onde poderia ter oportunidades de crescimento. Aproveitou a companhia de um tio e um primo e foi para São Paulo, mesmo contra a vontade dos pais. Ficou apenas um dia na capital paulista, quando soube que o outro tio por parte de mãe morava em Balneário Camboriú, não pensou duas vezes e foi pra lá. No início seria apenas uma experiência de um mês, ia tentar encontrar algo para trabalhar e se não desse certo voltaria para Bahia. Mas acabou dando certo, ficou três anos seguidos em Balneário Camboriú sem sequer visitar os pais.
A comunicação nesse tempo ainda era difícil. Seu primeiro trabalho na capital catarinense de turismo foi em uma construtora, como servente, ramo que até hoje emprega grande parte dos cidadãos do município, já que está em constante crescimento. Mas não foi como o esperado, trabalhou apenas quatorze dias nessa primeira empresa.
O segundo emprego na cidade também foi em uma outra construtora, esse durou um pouco mais, dois meses. Nos poucos momentos de lazer que conseguia, gostava de jogar futebol, logo quando chegou a Balneário teve uma breve passagem no time Guarani do bairro das Nações, onde disputou diversos campeonatos no município e no estado. Nesse meio tempo, surgiu uma oportunidade de trabalhar em Joinville, onde mais uma vez tentou a carreira de servente de pedreiro.
Foram 10 dias de infelicidade. Mas uma coisa chamou atenção nessa nova saída, junto com ele mais seis pessoas decidiram sair e acompanhá-lo em busca de uma oportunidade mais digna. O chefe quando descobriu isso, ficou indignado e queria uma satisfação de Zé Branco, por que estaria levando seus melhores empregados para outra firma, foi então que ele ofereceu a Zé o cargo de líder do grupo de serventes, o jovem então decidiu ficar, o que se tornou uma nova experiência, que durou um ano.
Sabia que não gostaria de voltar a ser empregado e queria tocar seu próprio negócio. Em 1988 encontrou outra pessoa que tinha o mesmo interesse em empreender, então uniram o útil ao agradável e entraram no ramo de prestação de serviços, que naquela época abrangia uma grande quantidade de atividades. Essa jornada durou cerca de oito anos, até Zé Branco decidir separar-se do sócio, deixando a empresa para ele e abrindo a sua própria, tornando-se independente. Durante essa nova fase da vida, empreendendo sozinho, prestou serviço para mais de dez municípios da região, onde em 1992 em uma dessas viagens, em Blumenau, conheceu Vanderléia, com quem se casou e vive até hoje.
Agora casado, foi com sua esposa morar em Camboriú, no bairro do Monte Alegre, cidade onde criou um carinho e amor profundo. Teve dois filhos, Pâmela e Willian, e tem uma neta a Maria Valentina. – “Sou grato a Camboriú, me adotou quando cheguei e tudo que eu construí foi graças a essa cidade maravilhosa. Minha família e minha vida profissional eu construí aqui, sou eternamente grato. Quando perguntam para mim qual a melhor cidade para se viver no Brasil, respondo sem nem precisar pensar, Camboriú!” – Zé Branco. Sempre foi apaixonado por política, desde quando Condeúba se transformou em Guajeru, inclusive participou desse processo de transição para tornar-se município. Seu tio foi o primeiro vereador quando ouve essa transição de Distrito para cidade, Zé o via como exemplo, como inspiração, ainda mais porque era o tio mais velho, possuía grande experiência e uma cabeça aberta para trocar informações. Mesmo antes de entrar de fato nesse mundo, gostava de se envolver, ouvir propostas, escolher a dedo seus candidatos, ir para a rua e participar de carreatas, carregar bandeiras, colocar camisa, adesivos. Até 1996 Zé Branco votava em Balneário Camboriú, depois transferiu seu título para a cidade do coração, Camboriú.
A partir de 2002 Camboriú começou a ter uma grande mudança política na cidade, onde outros partidos começaram a aparecer e ganhar força. Zé tinha entre seu círculo de amigos o ex-Vice Prefeito Antônio Pedro Sousa, que estava cogitando uma nova candidatura. Certo dia em um encontro na igreja, Antônio pediu pra Zé que se encontrassem para conversarem sobre política. Antônio acompanhado do ex-Prefeito Edinho foram até a casa de Zé Branco em 2003 e fizeram o convite para que ele fosse candidato a vereador, por incrível que pareça, o convite foi recusado em primeira conversa, pois não se sentia preparado para tal função. Por respeito a proposta, Zé declarou total apoio a candidatura da dupla como forma de agradecimento pelo convite, mesmo o rejeitando. Edinho e Antônio venceram a eleição. Depois de ajudar a se elegerem, Zé Branco estava com sua própria empresa prestando alguns serviços em Bombinhas, onde conheceu Luzia Coppi, que também era apaixonada pela política e que desde cedo dizia que seria a Prefeita de Camboriú. – “Ela sempre me falava que seria a Prefeita e eu brincava com ela falando que seria o Vice-Prefeito junto”.
Em 2005 Zé Branco começou a prestar serviço para a Prefeitura de Camboriú também, com a sua própria empresa. Nunca foi funcionário público e nem obteve cargos comissionados, sempre prestou serviços com a sua própria empresa para as prefeituras, serviços terceirizados. – “Teve uma situação onde havia por parte da administração da época uma certa dificuldade de resolver uma vala aberta do lado da minha casa, e Zé Branco trabalhava com tubulação, passando do lado da minha casa vendo a minha dificuldade e nervosismo prontamente parou e tentou resolver a situação, sendo que ele não tinha nada a ver com a Prefeitura”. Lembra Cleni Vieira Ramos.
O ex-Prefeito Edinho mais uma vez tenta convencer então Zé Branco de se tornar vereador, em 2007 em um café. Novamente possuía receio em aceitar o convite para tentar a eleição. Depois de pensar muito decidiu arriscar, e em 2008 foi eleito com 951 votos, 4º vereador mais votado da cidade, resultado esse que foi surpreendente já que ele nunca havia trabalhado na Prefeitura e não havia parentes conhecidos na cidade. No início foi bastante complicado, pois além de se dedicar ao mandato vigente, também tinha uma empresa para manter. Via a necessidade de se dedicar como vereador, então tomou a decisão de se afastar da empresa para focar todas suas energias na política e na população de Camboriú. Foram quatro anos muito pesados, de dedicação máxima, procurando trazer melhorias para os moradores de Camboriú. Aos poucos foi ganhando o reconhecimento dos cidadãos, começava a imaginar que aquela brincadeira com a Luzia poderia se tornar realidade. A população clamava pela dupla. Foi então que decidiram arriscar, a sintonia era mútua na dupla, Luzia mais eufórica e Zé Branco mais centrado equilibrava a balança. Em 2012 fizeram a campanha e foram eleitos. A sincronia que os dois passavam, buscando sempre atender ao povo, sem fugir da responsabilidade. – “A convivência entre eu e a Luzia sempre foi muito boa, nunca nos desrespeitamos, nunca brigamos, sempre nos preocupamos uns com os outros, sempre nos cumprimentamos e trabalhamos juntos, afinal como diz o ditado, juntos somos mais fortes”. Comenta Zé Branco.
No dia 31 de dezembro de 2012, se encerrava o seu mandato como vereador, e no dia 01 de janeiro de 2013 iniciava sua jornada de Vice-Prefeito, e no dia 03 de janeiro de 2013 teve de assumir temporariamente como Prefeito de Camboriú, pois Luzia teria que se afastar por um período de vinte dias, ou seja, em um intervalo de quatro dias passou por três cargos importantes. Outro momento que marcou muito sua vida aconteceu no dia 01 de janeiro de 2009, quando foi empossado no ginásio de esportes da cidade, que no dia estava totalmente lotado pelos cidadãos da cidade, onde foi aplaudido de pé.
Como em toda sua vida, a oportunidade de assumir a vaga de Vice-Prefeito surgiu inesperadamente e ele teve que tomar uma decisão em cima da hora. A vaga pelo partido apareceu uma semana antes das eleições, teve de correr pra pensar, conversar com sua família e enfim aceitar. Uma história comprova sua sinceridade, nessa mesma semana teve de conversar sobre as propostas com a população, e foi franco com eles sobre esse acontecido, que havia sido convocado de última hora, assim não teve tempo para se preparar, mas pediu o voto de confiança que iria se esforçar ao máximo para fazer o melhor mandato possível. Sua amiga Luciane Azevedo Tavares recorda dessa reunião.
Quando tenta lembrar de características ou lembranças de adolescentes que ligassem sua trajetória até a política, lembra por relances da primeira vez em que viu uma televisão ao vivo, aos 14 anos na casa do tio, aquele caixote que demorava 15 minutos até sintonizar em qualquer canal, e sem cores. Ficou impressionado ao ver os jornalistas falando através da telinha, passando informações para o mundo. Certa noite sonhou que um dia estaria ele atrás das telas, e isso realmente aconteceu, como político teve a oportunidade de conversar com diversos apresentadores e contar um pouco da sua história e projetos. Zé Branco é apaixonado pela literatura, desde pequeno não pode ver uma revista ou um jornal que logo abre e saboreia as páginas como se fossem deliciosos pratos de comida. – “Uma vez eu estava jogando papo fora com um amigo e falei pra ele que eu era uma espécie de águia, pois gostava de sobrevoar a região, encontrar os problemas de um modo amplo e achar a solução”. Brinca Zé Branco.
– “No último ano do seu mandato de Vice-Prefeito, houve um período em que ele assumiu o cargo de Prefeito e deu início a uma série de obras de saneamento na cidade. Nesse mesmo período, após o início dessas obras, houve uma chuva muito forte na cidade, com vários pontos de alagamentos, casas foram inundadas, uma cena bastante triste. O Zé Branco com a sua lucidez e um tato para lidar com as pessoas, liderou todos ao trabalho, uniu inclusive pessoas de partidos opostos, e em um curto período conseguiu resolver aquela situação. Fiquei admirado com a sua liderança, proatividade e pela maneira que conseguiu unir as pessoas para um mesmo objetivo, coisa que é muito difícil nos dias atuais”. Recorda Felipe Bampi.
Os quatro anos de mandato com a Prefeita Luzia foram muito bons, a cidade cresceu como nunca havia crescido, um mandato limpo, longe de polêmicas e cheio de entusiasmo. Um mandato voltado a população.
– “Já em sua carreira política sempre foi atencioso, ele tem um ponto alto nessa parte, a família unida, sempre estão ao lado dele o apoiando, fazendo com que cada passo dele se concretize, foi assim quando vereador, foi assim como Vice-Prefeito em seus mandatos. Ele é muito determinado e por ser sempre assim, não desiste de correr atrás de novas conquistas”. Conta Daniela Silvero, amiga de Zé Branco.
– “Na eleição de 2016 foi triste. Mas Zé Branco logo deu a volta por cima e mostrou quem sempre foi, o Zé de verdade”. Comenta Cíntia Dalfovo, colega e amiga da família.
Para o futuro, não fecha as portas para a política, inclusive em 2020 se elegeu vereador em Camboriú, provando que o povo realmente confia em seu trabalho. No momento em que esta biografia é escrita (2020), Zé Branco possui empresas em funcionamento a qual se dedica, a R.R, que faz serviços de manutenção e projetos em estruturas metálicas, e tem participação em outras empresas da região. Se tem alguma coisa que leva para sempre em seu coração e que aprendeu com os pais, é a honestidade, o caráter. – “Meu pai sempre falava que era melhor eu ser um peão com caráter e honestidade do que um Dr. Ladrão”, lembra Zé Branco.
Todos passam por dificuldades, mas o importante é saber lidar com esses empecilhos, saber tirar a melhor lição deles, aprender com eles. Zé Branco não se arrepende de nada do que fez, mas sim do que não fez. Sempre buscar mais e mais, melhorar tudo que pode ser melhorado. Hoje se vê muito mais experiente e com muitas novas ideias que poderão agregar ainda mais para o crescimento do município. Enraizado em seus princípios está a honestidade, nunca disputaria uma eleição para tirar algum candidato do poder, e sim ajudar a população camboriuense em si. Hoje é um cara feliz, realizado com sua vida política, profissional, pessoal e familiar. Se orgulha ao falar que nunca teve uma audiência contra a sua pessoa, sempre trabalhou com respeito. Tornou-se referência quando o assunto é transparência, muitas pessoas o procuram para dar sua opinião sobre os mais diversos assuntos, pois sabem que ele nunca faria nada pra prejudicar alguém. Quem imaginaria que aquele menino que saiu da roça, que colhia algodão para sobreviver, hoje estaria onde está com a experiência que possui.
Homem de fé, tranquilo e pensativo, que busca evoluir e absorver o máximo de cada situação, forjado a base da coragem e do respeito. Pai de família, reconhece o esforço dos outros, busca sempre uma convivência sadia e carinhosa com todos. Agora (início em 2020) exercendo o cargo de vereador na política novamente, irá fazê-lo da melhor forma possível e continuará a beneficiar o município que tanto ama. Sem dúvidas alguma, José Rodrigues Pereira, o Zé Branco, ainda dará muitas alegrias para os cidadãos de Camboriú.